Marginais a 90 km/h têm 102 acidentes com vítimas no primeiro mês

CET registrou, em média, 3,4 ocorrências por dia nas duas vias - um motociclista morreu; sob cerco, ambulantes resistem

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Por Fabio Leite
Atualização:

SÃO PAULO - No primeiro mês de vigência dos novos limites de velocidade definidos pela gestão do prefeito João Doria (PSDB) nas Marginais do Tietê e do Pinheiros, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo registrou 102 acidentes com vítimas nas duas vias, média de 3,4 ocorrências por dia. No período, houve uma morte – de um motociclista –, no dia 14.

Segundo vendedores, abordagens da Prefeitura estão mais frequentes Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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O balanço aponta que 82% dos acidentes com vítimas (84) envolveram motos e quatro foram atropelamentos. Tanto motociclistas quanto pedestres e ciclistas são a principal preocupação do programa Marginal Segura, lançado em 25 de janeiro por Doria.

Na ocasião, a velocidade máxima subiu para 90 km/h na pista expressa, 70 km/h na central e 60 km/h na local, após um ano e meio de limites reduzidos na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

De acordo com a CET, esta é a primeira vez que os dados de ocorrências operacionais, coletadas pelos agentes de trânsito nas vias, são divulgados. Por isso, afirma a empresa municipal, os números “não podem ser comparados com o balanço anual de acidentes consolidados”, que considera registros dos boletins de ocorrência de acidentes de trânsito na cidade e informações do Sistema Único de Saúde (SUS). O balanço consolidado de 2016 será divulgado até abril.

Em 2015, segundo a CET, foram registrados 762 acidentes com vítimas nas duas Marginais, o que representa uma média de 64 ocorrências por mês.

A companhia afirma que desde o início do programa Marginal Segura aumentou em 67% o número de agentes de trânsito nas duas vias e reforçou a sinalização e a fiscalização.

Comércio irregular. “Olha o rapa! Olha o rapa!”. Os gritos de alerta para a chegada dos guardas da Prefeitura se tornaram mais frequentes entre os ambulantes que atuam nas Marginais do Tietê e do Pinheiros. As blitze já apreenderam carrinhos, isopores e sacolas com mais de 6 mil produtos. Mas, apesar do cerco, o comércio irregular resiste nas duas vias mais movimentadas da capital e continua desafiando a gestão Doria um mês após o início do programa Marginal Segura.

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Nos três últimos dias, o Estado encontrou ainda dois redutos de comércio irregular em pleno asfalto ao longo dos congestionamentos nos horários de pico. Pela manhã, os chamados marreteiros agem, principalmente, na região do complexo viário do Cebolão, que divide as Marginais Tietê e Pinheiros, no sentido Interlagos, na zona sul. À tarde, a concentração ocorre entre as pontes da Casa Verde e da Vila Guilherme, no sentido Ayrton Senna da Marginal do Tietê, na zona norte. Nesta quinta, eram 13 ambulantes desviando dos veículos sob um sol de 35ºC.

“Estou aqui desde a época do (ex-prefeito Paulo) Maluf. O (Celso) Pitta, o (José) Serra, o (Gilberto) Kassab também fizeram uma perseguição forte, mas não adianta intimidar. O Doria não vai conseguir tirar a gente daqui”, desafiou o ambulante Manoel Ferreira Lima, de 53 anos, que mora debaixo da Ponte das Bandeiras. Desde 1996, ele vende bebidas e salgadinhos aos motoristas que passam ou simplesmente param no engarrafamento do local. 

Lima disse que comprou o “ponto de venda” no guardrail – barreira de proteção – da marginal há 20 anos por R$ 1,2 mil de outro ambulante. Hoje, ele comanda uma equipe de quatro vendedores, entre eles um adolescente, mas diz que, por causa da concorrência maior na região, está mais difícil ganhar dinheiro. “A gente chegava a tirar R$ 300 por dia. Hoje, encheu de gente e para tirar R$ 80 tem de ser um dia muito bom. Mas não posso reclamar, devo minha vida a esse asfalto da marginal.”

Cerco. A retirada dos ambulantes é um dos eixos de ação do programa Marginal Segura, lançado por Doria no dia 25 de janeiro com foco no aumento dos limites de velocidade máxima para até 90 km/h e dos equipamentos de sinalização, fiscalização e apoio operacional para evitar acidentes e reduzir os congestionamentos. 

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Uma operação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) com apoio de agentes das prefeituras regionais entre os dias 8 e 15 deste mês abordou 45 ambulantes e apreendeu 6,7 mil produtos que seriam vendidos irregularmente. Quando “o rapa” chega, muitos conseguem correr a tempo de esconder as mercadorias atrás do guardrail. 

Não é o caso de Damásio Gregório, de 61 anos, que sofreu um acidente na perna direita e tem dificuldade para andar. “Da última vez negociei com eles e não levaram nada. Ia ser um prejuízo de R$ 160. Estou aqui desde 2007, todo mundo me conhece. Moro de aluguel e com essa idade não arrumo emprego em lugar nenhum”, contou o marreteiro, que pega três conduções para ir da sua casa, em Francisco Morato, na Grande São Paulo, até a Vila Guilherme, na Marginal do Tietê, na zona norte.

Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o programa “priorizou a segurança de todos” neste primeiro mês, aumentou em 67% o número de agentes de trânsito nas duas vias – de 45 para 75 –, reforçou a sinalização com a instalação de 900 placas e intensificou as fiscalizações ao comércio ilegal ao longo das Marginais, realizando 283 abordagens a ambulantes e apreendendo 15.250 mercadorias irregulares.

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