Oito dias após ser preso e confessar os assassinatos de seis jovens em Luziânia (GO), a 58 quilômetros de Brasília, o pedreiro Adimar Jesus da Silva foi encontrado morto ontem, em uma cela da Delegacia de Repressão a Narcóticos (Denarc) de Goiânia. A Polícia Civil informou que ele se enforcou com uma corda improvisada com tecido de colchão.De acordo com a delegada titular da Denarc, Renata Cheim, eram 12h45 quando outros presos da delegacia pediram que os policiais fossem à carceragem. Os detentos, que ocupam uma cela vizinha ao cubículo de 3 metros quadrados onde Adimar estava isolado, tinham acabado de ter uma longa conversa com o pedreiro. Encostado na grade da cela, Adimar contara, friamente, detalhes dos assassinatos. De repente, parou de falar e ligou o chuveiro.O repentino silêncio do pedreiro e o som da água batendo direto no chão, ecoando no corredor onde minutos antes se ouvia o relato do serial killer, chamaram a atenção dos 12 detentos da cela próxima. Assim que os plantonistas chegaram, encontraram o corpo do preso.Adimar estava dependurado na grade da pequena janela da cela. Para se enforcar, disse a delegada, o pedreiro usou o viés do colchão que lhe fora entregue ao chegar à carceragem.Pelos relatos que a delegada ouviu dos presos, Adimar começou a planejar o suicídio na véspera. Os detentos disseram ter ouvido um barulho diferente no sábado. Depreenderam que ele estava rasgando tecido. Um investigador contou ao Estado que um dos detentos perguntou a Adimar o que ele estava fazendo e se estava pensando em se matar. O pedreiro negou.Último dia. A cela onde estão outros presos não dá vista para a solitária de Adimar, mas, desde sua chegada, no dia 10, eles costumavam conversar. Ontem, pelos depoimentos dos presos, Adimar acordou bem disposto e almoçou duas marmitas.Ao contar aos companheiros de prisão o que fizera com os garotos de Luziânia, afirmou ter violentado todos eles e negou participação na morte de sua ex-mulher.A frieza do relato impressionou os presos. Cláudio Tomás, detido há 30 dias por suspeita de associação ao tráfico, afirmou à delegada que Adimar roncava e comia bem. "Como alguém que matou tanta gente consegue viver assim?", indagou à delegada.Perguntada se não teria havido omissão da polícia, Renata foi enfática: "Se não tivéssemos dado o colchão e ele dormisse no chão, os movimentos de direitos humanos reclamariam".Investigação. Um inquérito foi aberto para investigar as circunstâncias da morte de Adimar. Os depoimentos dos presos foram acompanhados pelo delegado-corregedor da Polícia Civil, Sidney Costa e Souza, e por um promotor de Justiça.Hoje, vídeos do circuito interno de tevê devem ser anexados à investigação. A delegada afirmou que a última pessoa a entrar na cela antes de o corpo ser encontrado foi o entregador de marmitas, acompanhado de um carcereiro. "Não há dúvida de que foi suicídio."Reações. De Luziânia, a mãe de um dos garotos mortos, Valdirene Fernandes da Cunha, de 37 anos, lamentou a morte do pedreiro porque, vivo, ele poderia ajudar a elucidar o que, para ela, não está bem explicado. "Acredito que ele não cometeu os crimes sozinho. Se ele se matou, é porque tinha certeza de que não teria o perdão."Para o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), integrante de uma comissão que foi a Goiânia ouvir o depoimento de Adimar, houve erro do poder público. "É difícil impedir uma pessoa que quer se matar, mas, nesse caso, o Estado falhou de novo."CRONOLOGIARéu confessou seis crimes23/12Condenado por atentado violento ao pudor, Adimar ganha liberdade condicional30/12 a 22/1Seis jovens, entre 13 e 19 anos, são mortos de forma violenta14/1Promotora pede que Adimar seja monitorado11 e 12/4 Adimar é preso e admite os seis crimes16/4Juiz nega ter errado ao conceder liberdade a Adimar