Serial killer de animais é condenada pela morte de 37 cães e gatos

Dalva Lina era conhecida por receber animais abandonados; ONG desconfiou da rapidez com que ela conseguia um lar para eles

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Por Monica Reolom
Atualização:

Atualizado às 23h03

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SÃO PAULO - A Justiça de São Paulo condenou Dalva Lina da Silva, conhecida como "serial killer de animais", a 12 anos, seis meses e 14 dias de prisão e ao pagamento de multas por ter matado ao menos 37 cães e gatos em 2012, em São Paulo. Cabe recurso.

Moradora da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, Dalva era conhecida por receber, abrigar e encaminhar para doação cães e gatos abandonados. Entidades de proteção passaram a desconfiar da rapidez com que ela conseguia encontrar um lar adotivo para os animais. A ONG Adote um Gatinho decidiu contratar um detetive particular para acompanhar a movimentação na residência da acusada e, durante a investigação, ele flagrou a moradora depositando sacos de lixo na frente da casa da vizinha. Ao abri-los, deparou-se com 33 gatos e 4 cães mortos.

Dalva Lina da Silva perfurava agulhas no corpo dos animais e depois os colocava no lixo Foto: HÉLIO TORCHI

Logo em seguida, em janeiro daquele ano, Dalva foi detida, mas acabou liberada e pôde responder ao crime em liberdade. Na época, afirmou que cuidava de animais tirados das ruas há 13 anos e explicou que cinco dos animais tinham sido sacrificados por estarem doentes e que "nunca tinha visto" os outros.

Na sentença proferida nesta quinta-feira, 18, a juíza Patrícia Álvarez Cruz afirmou que a ré recebia os animais em sua casa já determinada a matá-los porque sabia que não teria condições de encaminhá-los à doação. "A ré tem todas as características de uma assassina em série, com uma diferença: as suas vítimas são animais domésticos. De resto, os crimes foram praticados seguindo o mesmo ritual, com uma determinada assinatura, com traços peculiares e comuns entre si, contra diversos animais com qualidades semelhantes e em ocasiões distintas. E o que é bastante revelador: não há motivo objetivo para os crimes. O assassino em série, como o próprio nome diz, é um matador habitual."

Patrícia explicou que, somente nos vinte dias em que foi observada pelo detetive, Dalva recebeu mais de 200 animais. "Diante disso, não é demasiado afirmar que centenas de animais foram mortos pela acusada", disse a juíza. Dalva perfurava os animais para levá-los à morte. "Não é difícil imaginar a morte desses animais: das milimétricas perfurações provocadas, o sangue se esvaía lentamente, até, por fim, provocar o choque hipovolêmico que os levava ao óbito", afirmou Patrícia.

A juíza também reconhece que o caso é inédito: "O reconhecimento do concurso material, na hipótese, implicará a aplicação de pena privativa de liberdade talvez sem precedentes em casos de maus-tratos contra animais. Mas a pena há de se ajustar à conduta do agente e o comportamento da acusada é igualmente inédito. Não se tem história de caso semelhante."

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A sócia-fundadora da ONG Adote um Gatinho, Juliana Bussab, comemorou a decisão na página do Facebook da entidade. "Eu já tinha experiência com maus tratos animais quando cheguei na porta da casa da Dalva naquela noite. Mas nenhum tipo de experiência prepara você para abrir gatinhos mortos embalados em jornal e com as agulhas ainda espetadas no coração", relatou Juliana. "Dalva vai ser presa!! Presa!!! Todos os animais que ela matou devem estar em festa no céu. O precedente que uma sentença assim abre para futuras 'Dalvas' do Brasil muda as regras do jogo", comemorou.

Perícia. O médico veterinário Paulo César Maiorka, integrante da Comissão de Especialidades Emergentes do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), coordenou o trabalho de perícia no caso e afirmou que, em 20 anos de profissão, nunca havia se deparado com tamanha crueldade. "Eu nunca tinha visto um caso como esse", disse.

Maiorka explicou que o caso abre prerrogativas para futuros julgamentos: "Esse é um caso inédito da história do Direito e vai servir para repensar o Código Penal, os direitos dos animais, e muitas questões serão levantadas a partir desse caso. É um divisor de águas no direito dos animais".

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