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Sem-teto entram em confronto com a PM na zona leste de São Paulo

Tropa de Choque e moradores de rua se enfrentaram no Viaduto Bresser; Polícia Militar agiu para a remoção das barracas

Foto do author Pedro  Venceslau
Por Luiz Fernando Toledo e Pedro Venceslau
Atualização:

Atualizado às 18h00

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SÃO PAULO -Um grupo de sem-teto, que ocupava havia mais de três meses uma lateral do Viaduto Bresser, na zona leste da capital paulista, entrou em confronto com a Polícia Militar e bloqueou o acesso à via na manhã desta sexta-feira, 23, durante protesto contra a remoção das barracas no espaço. A ação, determinada pela Subprefeitura da Mooca, foi cumprida pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SMADS), mas recebeu resistência dos sem-teto, o que motivou a chamada da Tropa de Choque da PM. 

Os policiais chegaram a disparar bombas de gás para dispersar manifestantes.Os sem-teto atearam fogo em sofás e colchões e atiraram pedras contra os policiais. Por volta das 11h, o local já estava liberado.

Cerca de 300 pessoas, segundo as lideranças locais, viviam em barracas de madeira e de lona montadas no acesso à Rua Pires do Rio, no cruzamento com a Radial Leste. De acordo com os sem-teto, um acordo informal entre os moradores e a Prefeitura foi descumprido nesta manhã. Eles afirmam que a SMADS havia liberado a permanência deles no local até o mês de março, quando um abrigo seria disponibilizado ao grupo.

Representantes da Subprefeitura da Mooca, que acompanharam a remoção, afirmaram que a medida foi considerada necessária porque a "favelinha" foi montada ao lado de dutos de gás, o que colocava em risco a vida dos moradores. Integrante da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, Padre Julio Lancellotti esteve no local para ajudar nas negociações.

"Nós fizemos um acordo com a secretaria Luciana Temer (Assistência e Desenvolvimento Social) e disseram que a gente só sairia daqui em março", afirmou um dos sem-teto, Bruno de Lima, de 32 anos. De acordo com ele, a PM chegou por volta das 7h. O jovem confessou ser usuário de crack, o que levou às ruas.

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Apesar de haver dispersão durante a manhã, a maioria dos sem-teto disse que continuaria no mesmo lugar e que voltaria a montar as barracas. A moradora de rua Simone Silva, de 34 anos e grávida há cinco meses, e disse que passou mal com o efeito do gás. "Atiraram para todos os lados, não tinha para onde correr", disse.Segundo os moradores, a PM atirou com bala de borracha e usou bombas de gás até dentro do Espaço de Convivência, equipamento mantido pela Prefeitura sob o viaduto que recebe moradores de rua para lavar roupas e tomar banho. Segundo alguns sem-teto, a PM tem ido ao local por três dias seguidos.

De acordo com o educador socioeducativo Leandro Meirelles, que trabalha no Espaço, existe uma resistência dos moradores de rua no local há pelo menos dois anos. "Eles não acreditam nessa política de mandar para albergues. Quem mora em albergue não consegue emprego", afirmou. Segundo Meirelles, o acordo firmado com a SMADS visava fechar o espaço de convivência. "Não teve uma contraparte para os moradores de rua. Onde eles vão ficar?"

A SMADS informou que não houve nenhum acordo estabelecido com os moradores de rua sobre os barracos, mas sim com dois Espaços de Convivência, Bresser e Alcântara Machado. De acordo com a pasta, o local será fechado em marçoe os moradores de rua deverão se adaptar a outro equipamento, chamado Núcleo de Convivência, disponíveis nos bairros Belenzinho e Brás, que também oferece alimentação. 

Em nota, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura afirmou que são realizadas ações de abordagem periódicas na região. Segundo a pasta, agentes da SMADS estiveram no local onde estão os barracos para cadastrar os sem-teto e oferecer encaminhamento. A ação da PM no local, segundo a Prefeitura, foi uma reação à agressão a quatro funcionários durante a remoção dos barracos. 

Procurada, a Polícia Militar não forneceu mais informações sobre a operação. Por causa da reintegração, o trânsito está carregado na região do Brás.

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