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Sem fiscalização, SP vira 'terra sem lei' à noite

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Por Redação
Atualização:

Tudo pode em São Paulo à noite e na madrugada. Feiras clandestinas e de produtos piratas. Barracas de bebida alcoólica. Parar o trânsito em vias movimentadas. Tirar o sono dos vizinhos com som alto. E pouco risco de ser flagrado pela fiscalização.A Prefeitura não informa o número de agentes vistores que trabalham no período noturno para atender denúncias de barulho, trânsito, defesa civil, estabelecimentos sem alvará, comércio irregular, entre outras atribuições. O sindicato da categoria afirma que são 31, um para cada subprefeitura, além de cerca de 20 do Programa de Silêncio Urbano (Psiu). Isso para cuidar de uma cidade de 11,2 milhões de habitantes.

 

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Lawrence Bodnar/ AE

 

A região do Mercado Municipal, no centro da capital, foi invadida por dezenas de camelôs que vendem DVDs e jogos de videogame piratas para outros vendedores ambulantes durante a madrugada. A feira atacadista da pirataria funciona diariamente, das 4h às 7h, na esquina das Ruas da Cantareira e Comendador Assad Abdalla, segundo donos de armazéns de frutas e verduras. Os DVDs vendidos na feira por R$ 1 são revendidos pelos compradores em lotes de três a cinco por R$ 10. Uma feira mais tradicional, mas também clandestina, é a da Rua Santa Rosa, no Brás. De segunda a sábado, das 2h às 6h, caminhoneiros vendem batatas e cebolas em via pública, sem autorização. Atraídos pelo preço baixo, feirantes saem com caminhonetes carregadas. Moradores da região dizem que o comércio irregular de madrugada os impede de dormir. "Os caminhoneiros ficam falando alto. Às vezes acordo assustada com a gritaria, achando que é uma briga", disse uma dona de casa de 46 anos. Uma balconista de 40, que mora na região há sete, lembra de ter visto fiscais da Prefeitura só uma vez. "Eles apreenderam as mercadorias porque os caminhoneiros não tinham notas fiscais."Procuradas, as Secretarias Municipais de Coordenação das Subprefeituras e Segurança Urbana não se manifestaram nem sobre a feira das batatas e cebola nem da pirataria.Bebidas. O trânsito para e os ambulantes tomam conta das calçadas. Motoristas entram em seus carros segurando latas de cerveja. Gritos e cantoria se misturam ao barulho das buzinas. É assim quase toda madrugada de sexta-feira na Avenida Francisco Matarazzo, zona oeste, por causa dos shows da casa noturna Villa Country. No dia 29, depois do show de Fernando & Sorocaba, uma multidão deixou a casa noturna às 3h. Vinte e cinco barracas de lanches e bebidas anunciavam seus produtos tranquilamente ao lado de duas viaturas da PM - cervejas eram vendidas a R$ 4 e doses de vodca e uísque custavam, respectivamente, R$ 5 e R$ 10. "Aqui é sempre essa zona. A polícia finge que não vê e a Prefeitura passa de vez em quando para tumultuar", admitiu um dos camelôs.Procurada, a Villa Country não se pronunciou. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou, em nota, que fiscaliza o local e, entre janeiro e agosto deste ano, foram aplicadas 11.101 autuações na via.Na Vila Olímpia, zona sul, situação semelhante acontece às quartas-feiras na Rua Quatá. Sempre antes da meia-noite, portas de casas noturnas são tomada por centenas de pessoas. Camelôs se misturam a flanelinhas e o trânsito não anda. Quem mora ao redor, quando consegue entrar nas garagens, não consegue dormir por causa do barulho.O porta-voz da Polícia Militar, capitão Sérgio Marques, diz que blitze ocorrem normalmente na capital. A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras não respondeu os questionamentos sobre as irregularidades. Informou que camelôs são de competência da Guarda Civil Metropolitana, subordinada à pasta de Segurança Urbana, que garante que a atribuição é da Coordenação de Subprefeituras. / MARICI CAPITELLI, GIO MENDES E CRISTIANE BOMFIM

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