Secretaria da Segurança é invadida em ato contra mortes de jovens

Manifestantes protestavam contra violência policial; houve princípio de tumulto com chegada do secretário

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Por Bruno Ribeiro
Atualização:
O saguão de entrada da SSP foi ocupado pelos manifestantes Foto: DARIO OLIVEIRA/CÓDIGO19

SÃO PAULO - A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) foi invadida no começo da noite desta quinta-feira, 10, por cerca de 150 manifestantes que protestavam contra assassinatos cometidos por policiais militares. O ato era sobretudo em solidariedade às famílias dos cinco jovens da zona leste paulistana mortos em condições suspeitas.

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O saguão de entrada da SSP, na Rua Líbero Badaró, região central de São Paulo, foi ocupado pelos manifestantes, até que o secretário Mágino Alves descesse de seu gabinete para falar com o grupo. A chegada dele, no entanto, causou um princípio de tumulto, só encerrado quando deixou o prédio pela porta da frente, escoltado por seguranças e policiais. Ele seguiu até um estacionamento lateral.

O protesto havia tido início na frente da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e os manifestantes foram caminhando até a secretaria, que fica a poucos metros de distância. Eles não tiveram dificuldade em ocupar a entrada, onde chegaram às 19h45, mas um cordão de policiais, nas catracas, barrou o avanço para as dependências internas.

Inicialmente, o grupo pedia audiência com o secretário – e foi informado que ele não estaria no prédio naquele momento, mas em um evento de secretários estaduais de Segurança, em Goiás. “Este ato é em solidariedade às vítimas e também um protesto contra os assassinatos sistemáticos de jovens negros pela polícia de São Paulo”, disse o militante da causa negra Douglas Belchior, que foi candidato a vereador pelo PSOL em São Paulo. 

Posteriormente, Mágino surgiu no saguão e sugeriu que uma comissão de militantes subisse até seu gabinete. Mais tarde, a assessoria da SSP informou que o secretário não estava no prédio, mas retornou para conversar com os manifestantes. Os ativistas, no entanto, optaram por fazer um jogral, antes de tomar uma decisão. Nesse processo, o secretário optou por não esperar e saiu.

Nessa hora, manifestantes chegaram a jogar água no secretário. O fato levou a um início de tumulto, envolvendo até a segurança do secretário, que acabou controlado pelos próprios manifestantes. 

Primeira e última. Após o episódio, Mágino declarou que “foi a primeira e a última vez que a Secretaria da Segurança Pública é invadida”. Enquanto a manifestação prosseguia, um grande número de PMs se posicionou nos acessos ao prédio. Mas não houve confronto.

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Às 20h20, os manifestantes decidiram deixar o prédio, sem que nenhum incidente fosse registrado. Ninguém foi preso. Belchior criticou a atitude do secretário. “Ele quis provocar um tumulto (com sua saída) para justificar uma carnificina (em referência à morte dos jovens). Mas não caímos nessa provocação”, disse o militante. 

O protesto havia tido início na frente da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADAO

Investigação. Robson Fernandes Donato de Paula, de 16 anos, Caíque Henrique Machado Silva, Jonathan Moreira Ferreira, ambos de 18, Cesar Augusto Gomes da Silva, de 19 anos, e Jonas Ferreira Januário, de 30, desapareceram em 21 de outubro, quando iam da zona leste de São Paulo para uma suposta festa em Ribeirão Pires.

Eles foram encontrados no domingo em uma cova rasa na zona rural de Mogi. Os corpos tinham marcas de balas - e um deles foi decapitado. No local foram achados cartuchos de calibre .40 de dois lotes comprados pela PM. De acordo com o ouvidor das Polícias, Julio Cesar Fernandes Neves, o crime tem "claros sinais de execução".

O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), que vem prestando assistência às famílias, informou que os corpos deverão ser retirados do Instituto Médico-Legal (IML) nesta sexta e enterrados no sábado. 

"Eles conseguiram uma reunião com a superintendência do IML, que dará mais detalhes sobre as perícias", disse a conselheira do Condepe, Cheila Olalla. As famílias vinham solicitando a realização de uma perícia independente e a secretaria havia cogitado até um enterro como indigentes.

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