PUBLICIDADE

São Paulo tem média de 3 sequestros relâmpagos por dia

Registros mostram que vítimas são de classes sociais e idades variadas; zonas sul e oeste [br]concentram casos

Por Camilla Haddad
Atualização:

A vendedora ambulante Leilane Souza, de 23 anos, e o empresário Silvio Fisberg, de 50, nunca se viram. Mas foram personagens de uma história que se repetiu em média três vezes por dia na capital paulista neste ano: o sequestro relâmpago. Entre 1.º de janeiro e 31 março houve 285 casos, segundo levantamento feito pela reportagem em delegacias de São Paulo. A última vítima foi o executivo Carlos Alberto Viviani, encontrado morto anteontem em rua ao lado do Shopping Cidade Jardim.Boletins de ocorrência mostram que o sequestro relâmpago atinge pessoas de várias classes sociais e idades e afeta com mais frequência quem passa em bairros como Pinheiros, Alto de Pinheiros, Vila Madalena, Alto da Lapa (zona oeste), Moema e Jardins (zona sul). As vítimas são abordadas enquanto abrem ou fecham as portas de seus carros, ao celular ou simplesmente ao caminhar pelas ruas.Sob ameaça constante, reféns são obrigados a fazer saques em caixas eletrônicos ou compras em shoppings. Para disfarçar, o suspeito dá as mãos para a vítima do sexo feminino, como ocorreu com uma bibliotecária de 61 anos, moradora da Granja Viana. Nas ocorrências, um dado comum: as vítimas geralmente estão sozinhas, ficam sob a mira de revólveres, relatam ameaças de morte e quase sempre presenciam um motoqueiro acompanhando a ação. A primeira exigência do assaltante é o cartão bancário. É com ele que o criminoso saca quantias elevadas entre dois horários: pela manhã e à tarde.Registro. Não se sabe se o número de casos aumentou ou não em comparação a 2009. A Secretaria da Segurança Pública não forneceu os dados. "São para uso interno e destinados ao planejamento do trabalho policial", informou a pasta.Até abril do ano passado, essa modalidade de crime podia ser registrada de três maneiras: roubo, extorsão mediante sequestro e roubo com retenção de vítima. Para pôr fim à confusão, em abril de 2009 entrou em vigor a Lei 11.923, que tipificou a conduta como crime de extorsão, cuja pena prevista (de 6 a 12 anos) supera a de roubo (de 4 a 10), tornando-o mais grave. A PM afirma que esse crime é visto pelos infratores como fácil de cometer e rentável. Basta pegar uma pessoa, geralmente distraída num carro, ir a um caixa e sacar o dinheiro. Bandidos podem fazer várias ações num mesmo dia.No 11.º Distrito Policial (Santo Amaro), o delegado titular, Armando Bellio, destaca uma peculiaridade de sua área: as vítimas costumam ficar com uma parte do bando em postos de gasolina. "O funcionário acha que a pessoa está parada e nem questiona", diz. Enquanto isso, outro ladrão faz o saque.O psiquiatra Felipe Corchs, do Hospital das Clínicas e do Núcleo Paradigma, conta que, mesmo após irem para a casa ilesas, as vítimas desenvolvem o chamado estresse pós-traumático. O transtorno requer tratamento e, em alguns casos, remédio.PRESTE ATENÇÃO1.Os assaltantes raramente atuam sozinhos. Pelas características dessa modalidade de crime, a Polícia Militar aponta que há a participação de pelo menos duas pessoas, sendo mais comum a prática de sequestro relâmpago por três homens2. Enquanto um ou dois ladrões dominam a vítima (mulher ou homem geralmente sozinhos), um terceiro fica com a "função" de efetuar os saques, muitas vezes utilizando moto. Segundo a corporação, a abordagem policial a motociclistas perto de caixas eletrônicos ajudou em algumas prisões3. As vítimas são interceptadas pelos ladrões quando estão em seus carros ou paradas no trânsito. Há casos em que foi observada a abordagem de cidadãos a pé4. Os assaltantes não condicionam sua escolha a status social. Podem atacar pessoas ricas e pobres, pois existe limitação para saque nos caixas, o que, de certa forma, nivela a classe social das vítimas pegas

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.