Em pouco mais de 20 dias, mais de 900 árvores caíram em São Paulo, uma delas matando uma pessoa dentro de um táxi em Higienópolis. A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras contabilizou, aproximadamente, 600 quedas: 400 delas dia 29 de dezembro, 100 no dia 7 de janeiro e outras 100 em 12 de janeiro. Ventos acima de 80 km/h registrados no período, considerados "atípicos" pela Prefeitura, podem justificar o alto número de quedas.
Para a meteoróloga Samantha Martins, da Estação Meteorológica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, não se pode colocar toda a culpa na natureza. "Não existe nada de anormal, o período entre outubro e março é a época com maior incidência de chuvas historicamente." Ela explica que ventos e chuvas podem ter variação em diferentes áreas, mas que não foram registrados ventos muito mais fortes no fim de 2014 e começo de 2015. "As seguradoras costumam pagar danos para ventos acima de 54 km/h, e é normal que tempestades derrubem algumas árvores ou galhos, mas é preciso fazer prevenção."
O biólogo e pesquisador do Centro de Tecnologia de Recursos Florestais do IPT, Sérgio Brazolin, afirma que ventos acima de 80 km/h podem derrubar uma árvore saudável em qualquer cidade do mundo. Com a falta de planejamento urbano, duas situações principais acontecem: processo de envelhecimento das árvores que provoca deterioração da base, muitas vezes não visível, e fragilidade de sustentação quando a planta é feita em canteiros inadequados.
Principais motivos para a queda de árvores
Ibirapuera. O principal parque da cidade foi um dos lugares mais afetados. O número de árvores caídas no dia 29 de dezembro foi tão alto que os portões amanheceram fechados ao público. Brazolin explica que no Ibirapuera existe uma equipe responsável por monitorar a vegetação, entretanto, por ser um local aberto, fica mais exposto às tempestades. "Ventos de 100 km/h são capazes de arrancar árvores saudáveis pela raiz, mas é possível que existam algumas fragilizadas." Para ele, transtornos como esses são também oportunidades para pesquisa. "É ruim que aconteça uma coisa dessas, mas agora a prefeitura deve estudar os motivos das quedas e analisar quais as espécies mais indicadas para reposição ou substituição."
O pesquisador ainda lembrou do caso da ponte de Tacoma, nos EUA. A construção, derrubada pelo vento quatro meses depois de sua inauguração em julho de 1940 (assista ao vídeo), foi um exemplo para a execução de novas pontes, e ele explica que o mesmo acontece com algumas árvores quando entram em atrito com o vento.
Plano de arborização."É necessário que haja diálogo entre poder público, academia e sociedade civil para saber o tipo de arborização adequada para São Paulo", salienta Brazolin. A vegetação diminui a sensação térmica em estações mais quentes, gera sombreamento e retém partículas de poluição. No entanto, "a arborização sempre perde na discussão da cidade, as ruas e calçadas são priorizadas", explica ele.
O pesquisador lembra que o monitoramento deve ser constante e criterioso. "A prefeitura tem feito, mas talvez não na velocidade necessária". Ele ainda afirma que, em caráter de urgência, é preciso ter mais cuidado em bairros com árvores mais antigas e em vias de maior circulação.
A prefeitura designou 62 equipes na manutenção de árvores e 93 em áreas verdes para minimizar o número de quedas. A população também pode ajudar entrando em contato pelo Sistema de Atendimento ao Cidadão, 156, ou Praças de Atendimento nas subprefeituras, quando houver algum incidente.
Principais motivos para a queda de árvores