'Rolezinho' é suspenso no Ibirapuera após estupros de jovens

Reunião entre Prefeitura e organizadores vai estruturar evento em fevereiro; mãe de uma das vítimas questiona a abordagem policial

PUBLICIDADE

Por Felipe Resk e Paula Felix
Atualização:
Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo Foto:

SÃO PAULO - Após o estupro de duas jovens no Parque do Ibirapuera, os próximos rolezinhos marcados para ocorrer no local, via redes sociais, estão suspensos. A medida foi tomada em uma reunião nesta quinta-feira, 21, com representantes da Prefeitura de São Paulo, da São Paulo Turismo (SPTuris) e da organização desses encontros. Além da suspensão, ficou definido que uma nova reunião será feita no dia 27 para estruturar um evento oficial no parque em fevereiro.

PUBLICIDADE

O prefeito Fernando Haddad (PT) anunciou nesta quinta que dobrará o efetivo de guardas-civis metropolitanos nos fins de semana no parque. Mesmo com o reforço, ele destacou que a GCM tem “limites de atuação”. “A Guarda Civil faz a segurança patrimonial. Quando acontece um evento (como um rolezinho) em que estavam previstas 2 mil pessoas e vão 12 mil, a Guarda estava com contingente para (monitorar) 2 mil”, disse.

Ele ressaltou que chamou os organizadores do evento “à responsabilidade” e pediu que seja feita comunicação prévia dessas ações à Prefeitura. “Não é só com o número de guardas que você vai resolver o problema. Jamais será suficiente (o reforço na segurança) se não houver uma organização prévia.”

No dia do crime, havia 59 GCMs no Ibirapuera e foram relatados 10 roubos - 8 dentro do parque. Um dos estupros aconteceu na área conhecida como “bananal”, que tem muita vegetação e não dispõe de câmeras de segurança. Na hora do crime, havia pouca iluminação no local. No mesmo dia, outra jovem, de 16 anos, também registrou uma ocorrência de estupro no parque. A Polícia Civil divulgou na quarta-feira um retrato falado do suspeito, descrito como “branco de pele morena”, morador de Parelheiros, cujo apelido seria “Japa”.

A polícia divulgou retrato falado do suspeito de estuprar a jovem de 16 anos; o homem é descrito como 'branco de pele morena', e seu apelido é 'Japa' Foto: Polícia Civil|Divulgação

Abordagem policial. A jovem de 18 anos disse à família ter se sentido desconfortável com a abordagem de policiais. Segundo relato da mãe, que não quis se identificar, os agentes não consideraram o estado emocional da estudante ao registrar o crime no 27.º Distrito Policial (Campo Belo).

A mãe da garota conta que a jovem estava muito abalada após o estupro, mas que não acompanhou o relato no distrito policial. “Ela contou que se sentiu muito mal, porque eles falavam: ‘Você foi porque quis, né?’. Acho que ela só fazia assim (confirmava) com a cabeça. Eles desconsideraram o estado que ela estava para achar que podia consentir com alguma coisa.”

De acordo com a mãe, a filha não costumava frequentar o Ibirapuera e foi ao parque para uma confraternização com amigas. Elas beberam e um rapaz de 19 anos se aproximou do grupo. Os dois conversaram por três horas, até que as amigas deixaram a vítima sozinha. “Falaram sobre política. Em nenhum momento, pareceu ser uma pessoa do mal. Parecia ser um ‘paquera’”, relata a mãe.

Publicidade

O ato sexual entre a jovem e o rapaz aconteceu quando eles se dirigiam para o portão 6 do parque. “Ela ia pegar um táxi, mas ele a convenceu a ir para o local.” Em depoimento, os dois afirmaram que o ato foi consensual. Na versão da estudante, um grupo formado por seis agressores teria aparecido, a imobilizado e a estuprado por cerca de uma hora. Já o rapaz afirma que o bando era formado por três homens. Quando os estupradores chegaram, ele fugiu e furtou o celular da vítima. “Ela está toda dolorida”, afirma a mãe.

Investigações iniciais apontam que o jovem de 19 anos, que chegou a ser detido e vai responder por furto, não conhecia os demais agressores. Ele pode ser indiciado por estupro, caso os laudos médicos comprovem que a estudante estava em estado de vulnerabilidade por causa da ingestão de álcool. A família nega que ela tenha usado drogas.

Corregedoria. Em nota, a Secretaria da Segurança afirma que a jovem não procurou a Corregedoria para falar sobre o tratamento no Distrito Policial, mas está à disposição para atendê-la e apurar os fatos. / COLABOROU JULIANA DIÓGENES