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Quatro PMs são presos suspeitos por morte de pichadores na Mooca

Para a Corregedoria, versão dos policiais, de que jovens assassinados teriam invadido prédio para assaltar, é frágil

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

SÃO PAULO - A Corregedoria da Polícia Militar deteve nesta quarta-feira, 6, de forma administrativa, os quatro policiais militares que participaram da ocorrência que terminou com a morte de dois pichadores na zona leste da capital, na quinta-feira passada, 7. A prisão temporária deles deve ser pedida nesta quinta-feira, 7, à Justiça Militar.

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Segundo a Corregedoria, incongruências nos depoimentos dos quatro envolvidos, filmagens coletadas durante as investigações e o testemunhos colhidos pelos investigadores colocaram em xeque a versão dos policiais - de que os pichadores haviam entrado no prédio, que fica na Avenida Paes de Barros, na Mooca, para cometer um assalto e que teriam trocado tiros com os policiais depois de serem flagrados 

O tenente-coronel Marcelino Fernandes, da Corregedoria da PM, disse que “existe um lapso de tempo entre a invasão tática e a comunicação ao Copom (Centro de Operações da Polícia Militar)” que não foi explicado de forma satisfatória pelos envolvidos - que tiveram apenas o “nome de guerra” divulgados: tenente Matsuoka, sargento Amilcezar e cabos Segala e Figueiredo. As idades deles variam entre 28 e 45 anos e, ainda segundo a Corregedoria, todos já haviam se envolvido ao menos duas vezes em ocorrências como morte de suspeito anteriormente.

Outro ponto que não está claro, segundo o tenente-coronel, é por que o caso só foi relatado por outro PM, que não participou da ocorrência, no lugar de um dos quatro, como é de praxe. Os suspeitos não souberam explicar o motivo. 

Além disso, o coronel informou ter a confirmação de que, naquela noite, as vítimas estavam em plena atividade de pichação, porém sem dar indícios de que poderiam praticar algum crime de maior gravidade. “Verificou-se, com testemunhas e outras câmeras do local, que esses mesmos jovens já tinham pichado um condomínio a 300 metros dali, sem a característica de estarem armados”, disse Fernandes, ao sugerir que a versão de que a invasão do prédio para a prática de um assalto era frágil. 

Uma testemunha que prestou depoimento à polícia afirmou ter ouvido pelo menos dez tiros naquela noite. Os disparos foram feitos sem parar, porém com um espaço de tempo entre eles. 

Caso o Tribunal de Justiça Militar aceite a denúncia, os suspeitos deverão ser encaminhados para o Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte de capital, aguardando o julgamento. Entretanto, caso se confirme que o caso se trata de uma execução, a Corregedoria não adiantou quais seriam as acusações que o quarteto terá de responder. 

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O caso. Alex Dalla Vecchia Costa, de 32 anos, e Ailton dos Santos, de 33, tiveram a morte registrada como um fato decorrente de uma troca de tiros com a Polícia Militar, depois de a dupla invadir o prédio da Mooca. Na versão registrada pela Polícia Civil, os PMs alegaram que um policial chegou a ficar ferido durante a suposta troca de tiros com os rapazes mortos. 

Desde o começo, familiares negaram que os dois estavam no prédio para praticar crimes. A polícia havia informado ainda que ambos já haviam sido presos em ocasiões anteriores: Costa, mais de uma vez, acusado de furto - a última detenção havia sido em 2005 -, e Santos, por causa de pichações.

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