PUBLICIDADE

'Quanto custa ao Estado a dor de uma família?', pergunta pai de dentista queimado

Lance Gaddy questiona as investigações da morte do filho

Por Barbara Ferreira Santos
Atualização:

SÃO PAULO - Familiares de Alexandre Peçanha Gaddy, de 41 anos, que morreu na segunda-feira, 3, velam o corpo do dentista no Cemitério Gethsemani, no Morumbi, zona sul de São Paulo, nesta terça-feira. O pai de Alexandre, Lance Gaddy, de 68 anos, disse que o filho, queimado no dia 27 de maio em seu consultório em São José dos Campos, foi vítima de um crime brutal. "Foi um ato covarde, não se faz isso com um ser humano. Será que o prazer secundário é roubar e o primário é causar dor? Porque a proposta desses bandidos não foi roubar, a proposta foi machucar. A polícia tem procurar um criminoso que quis provocar uma dor brutal no Alexandre", afirmou.

PUBLICIDADE

Lance questionou a investigação da morte do dentista. "A primeira perícia foi feita porcamente. Queremos que seja feita outra, de forma adequada". Ele fez um apelo para as autoridades de segurança do Estado de São Paulo criarem políticas para prevenção de crimes contra dentistas. "O que é preciso é a sociedade pressionar as autoridades para que dispositivos de segurança sejam implementados. Precisa-se colocar mais câmeras de seguranças, sistemas de patrulhamento mais eficazes. Custa caro? Sim, custa. Mas quanto custa o tratamento de uma vítima no hospital? Quanto custa a perda de um profissional na sociedade? Quanto custa a dor de uma família?", indagou.

Um das irmãs do dentista, Cristiane Peçanha Gaddy disse que o irmão foi transferido para o Hospital Albert Einstein com 95% de chances de morrer. "Ele foi bem atendido pela equipe médica da Santa Casa de São José dos Campos, mas não tinha um aparelho de hemodiálise ininterrupta lá. Ele tinha de fazer a cada três horas. Tiveram de quebrar a parede do quarto com ele lá para instalar equipamentos", afirmou. "Um médico do Einstein foi buscá-lo lá e comemorou porque conseguiu trazê-lo vivo".

Para o pai, também falta infraestrutura na rede de saúde. "O meu filho teve de ser transferido com chances de morrer para ter um tratamento adequado. E era o hospital referência para tratamento de queimados em São José. Não foi por culpa dos médicos, mas das condições que os colocam para trabalhar", afirmou.

Mariane Peçanha Gaddy, irmã do dentista, disse que a família está se sentindo "impotente" com a brutalidade do crime. "É uma sensação de horror que estamos vivendo. Quando ouvi a história da outra dentista morta em São Bernardo do Campo, me senti revoltada como cidadã, mas nunca achei que essa situação fosse acontecer comigo. Quando acontece, parece um pesadelo", afirmou. "A primeira coisa que eu pensei quando soube do crime, foi 'meu Deus, não deixa meu irmão sofrer'. Depois o foco foi mentalizando para ele poder se recuperar".

"A gente espera que a polícia e as demais autoridades resolvam esse caso para que nenhuma outra pessoa passe o horror que o meu irmão passou na mão de dois bichos, porque não são humanos. Quero, não por vingança, mas para não fazerem o que esses caras fizeram com meu irmão".

Segundo a irmã, em março, a ex-mulher do dentista teve o consultório assaltado, também na Vila Industrial, em São José dos Campos. O computador de Gaddy estava no local e foi roubado. "No computador tinha o balanço de quanto ele ganhava por mês e acredito que possam ter sido os mesmos bandidos."

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.