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Quando arquitetura e capital se aliaram por uma cidade melhor

Por ARTIGO: Fernando Serapião , crítico de arquitetura e editor da revista 'Monolito'
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David Libeskind foi um dos mais criativos arquitetos de São Paulo: foi autor de arranjos formais, proporções e combinações incomuns e inventivas. Provavelmente, sua rara sensibilidade foi lapidada no período de aprendiz de Guignard. Apesar disso, o establishment arquitetônico marginalizou sua produção por não ser filiada ao movimento da época, a escola paulista. Afinal de contas, como podia um arquiteto nascido no mesmo ano de Paulo Mendes da Rocha se preocupar com conforto e equilíbrio quando a aspereza do concreto expressava a polarização política dos anos de chumbo? Hoje, quem quiser conhecer a capacidade criativa de Libeskind terá dificuldade: restam intactas poucas das incríveis casas dos anos de 1950 e 1960. Alguns edifícios de apartamentos, com o Arper, na Rua Aracaju, mantêm a dignidade original. Contudo, nos últimos 20 anos, Libeskind foi redimido graças à qualidade urbanística do principal projeto que ele realizou: o Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, prédio aclamado por nove entre dez arquitetos. Se o volume laminar sobre embasamento foi inspirado na sede nova-iorquina da Lever - desenhada cinco anos antes por Gordon Bunshaft -, o Conjunto Nacional possui uso mais rico do que o quartel general da fábrica de sabão: na base horizontal, o piso da calçada continua no interior da galeria comercial, diluindo a divisão entre público e privado; na torre, apartamentos convivem em harmonia com escritórios. Libeskind desenhou-o aos 25 anos, ao ter a ousadia de procurar seu idealizador, José Tjurs. "O que você quer, garoto?", ouviu. Doce como uma criança, sua resposta conquistou o cliente. Se fosse arrogante, poderia ter dito: "Eu só quero criar um modelo de cidade". Não foi professor nem deixou discípulos, mas entra para a história deixando a lição de que o capital pode ser aliado na construção de uma cidade melhor.

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