Quadrilha de SP usava mendigos em fraude

PF identifica moradores de rua que vendiam dados, como número do RG, para lavagem de dinheiro e envio ilegal de remessas ao Paraguai

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Por Fausto Macedo
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Os mendigos de São Paulo, mais respectivamente 623 deles, caíram na malha fina da Polícia Federal, que deflagrou a Operação Albergue para desativar um engenhoso esquema de remessas de valores para o Paraguai e lavagem de dinheiro de contrabando e pirataria. Corporação que nas últimas temporadas entregou-se com destemor à caçada a políticos, empresários e banqueiros poderosos, a PF mobilizou ontem o contingente da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros para uma devassa em 27 endereços comerciais e residenciais, incluindo quatro casas de câmbio que se valeram dos excluídos para movimentar US$ 6,5 milhões entre janeiro de 2009 e janeiro de 2010. Onze suspeitos foram capturados em regime temporário, mas nenhum é pedinte porque não são o verdadeiro alvo do inquérito. A PF não vê perigo nos cidadãos de rua sem bens, mas com RG no bolso. No entanto, classifica-os de laranjas da organização porque emprestavam documentos pessoais a aliciadores a R$ 10 a operação. A PF estima que cada um cedia dados ao menos uma vez por mês. A missão foi autorizada pelo juiz Márcio Ferro Cattapani, da 2.ª Vara Criminal Federal.Turismo. Os federais descobriram a trama depois de manter sob severa vigilância as agências de turismo, foco central do golpe, uma delas já inspecionada há dois anos em outra operação, a Catraca. A PF fez imagens do entra e sai nos escritórios e verificou que esmoleiros documentados eram apanhados - aliciadores, a R$ 30 o serviço, atraíam a mendicância nas imediações do Vale do Anhangabaú e da Líbero Badaró, onde o mercado negro do dólar fincou raízes.São investigados lojistas da Galeria Pajé e da Santa Ifigênia que buscavam os préstimos das casas de câmbio para enviar ativos ao Paraguai, de onde mandavam trazer eletrônicos e outros produtos contrabandeados vendidos no varejo.Para identificar a legião de pedintes, a PF bateu à porta da Prefeitura, requereu acesso ao cadastro de albergados e fez o cruzamento com arquivos do câmbio. Encontrou, na primeira etapa da pesquisa, 623 "compradores" de dólares. "Eles assinavam os boletos de compra e venda de modo que o real dono dos valores tinha a identidade preservada", diz o delegado federal Ricardo Saadi.Ele anotou que os crimes são de câmbio fraudulento de dólar, envios ilegais para o exterior, descaminho, quadrilha e lavagem de capitais - a pena pode chegar a 36 anos de prisão. "O objetivo era a entrada de recursos de origem ilegal no mercado. O dinheiro era esquentado com a documentação dos mendigos e o lucro é muito alto."

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