Ato contra Lei de Migração termina com prisão de dono do Al Janiah

Manifestante descendente de palestinos foi detido com pelo menos seis pessoas após confusão com grupo de direita

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Por Bruno Ribeiro
Atualização:

SÃO PAULO - O protesto de um grupo chamado Direita São Paulo, que percorria a Avenida Paulista, na região central da capital paulista, gritando palavras de ordem contra a nova Lei de Migração, terminou em briga após os manifestantes se encontrarem com um grupo que tinha um imigrante árabe, na noite desta terça-feira, 2. A Polícia Militar deteve duas pessoas na avenida e outras duas que foram ao socorro dos colegas, já no 78.º Distrito Policial (Jardins). 

Cerca de 50 pessoas se reuníram na madrugada de quarta-feira, 3, na frente do 78.º DP para aguardar a soltura do imigrante palestino Hasan Zarif Foto: Bruno Ribeiro/Estadão

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O começo da briga não estava claro até o começo da madrugada desta quarta. Os policiais civis que estavam na delegacia não deram explicações à imprensa. 

Entre os detidos, está Hasan Zarif, do restaurante Al Janiah, estabelecimento na Bela Vista, região central, que vem ganhando fama pelos pratos palestinos e pelas baladas. Seu advogado, Hugo Albuquerque, nega que ele tenha iniciado alguma agressão contra os manifestantes. 

Uma série de vídeos postados nas redes sociais registrou a confusão no meio da avenida, mas sem mostrar o começo do tumulto. O advogado Albuquerque afirmou que, segundo Zarif, os manifestantes foram em seu encontro e iniciaram provocações, que terminaram em agressões mútuas. "Houve troca de ofensas e vias de fato", afirmou. 

Cerca de 50 pessoas foram à delegacia aguardar a soltura do imigrante e de seus colegas. Quatro equipes do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) foram chamadas para também permanecer na porta do distrito, mas até 2 horas não havia registro de novos tumultos. 

O grupo se reuniu após o advogado de Zarif afirmar ter ficado ao menos três horas sem poder falar com seus clientes. 

Outro preso seria o estudante Roberto Gomes de Freitas, de 18 anos. Na porta da delegacia, sua mãe, Cleide Aparecida Gomes, afirmou que o filho é militante de movimentos de esquerda e também reclamou da falta de informações sobre ele. "Todos nós só queremos um Brasil melhor. Eu já recebi uma bandeira de São Paulo dobrada e não quero receber outra", disse a mãe, abalada, se referindo ao pai do rapaz, policial militar já falecido.

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Os outros dois detidos não tiveram as identidades informadas. Eles estariam no Al Janiah participando de uma palestra sobre o centenário da Revolução Russa de 1917 e foram até a delegacia quando souberam, pelo WhatsApp, da prisão. Ao chegarem ao local, foram detidos também, segundo testemunhas. 

Não havia simpatizantes do movimento Direita São Paulo para dar a versão deles dos fatos. A polícia não confirmou se havia algum integrante do grupo detido, embora o advogado de Zarif tenha dito que havia integrantes do movimento dentro da delegacia. No Facebook, o grupo postou textos e fotos afirmando que haviam sido atacados por "terroristas". Nos relatos, a página afirma que uma bomba caseira foi lançada. Os manifestantes gritavam palavras para exaltar a PM e dizendo "comunista tem que morrer". 

Por causa da falta de acesso ao cliente, Albuquerque pediu auxílio à Comissão de Prerrogativa da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), segundo informou, e um representante esteve na delegacia. Só depois ele teria tido acesso ao cliente. 

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