'Prometeram drenos, e trouxeram extintores'

Revoltados com decisão de desocupação, moradores derrubam caçambas, espalham lixo, bloqueiam via e reclamam de falta de ação da Prefeitura

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Por Felipe Frazão
Atualização:

A determinação imediata de remoção dos moradores do conjunto habitacional Cingapura, na Avenida Zaki Narchi, zona norte de São Paulo, e o aviso da Prefeitura de que não teria para onde levá-los causou revolta ontem no local. No final da tarde, pouco antes das 17 horas, cerca de 300 manifestantes tomaram as duas pistas da avenida, espalharam sacos de lixo e atearam fogo, bloqueando a via por aproximadamente duas horas.Aproximadamente 75 PMs tiveram o reforço de 15 viaturas da ronda escolar e da Força Tática. A líder da Associação Vida Melhor, Cleonice Maria do Nascimento, organizou um abaixo-assinado pedindo que as pessoas não sejam removidas, entregue ao Ministério Público e ao prefeito Gilberto Kassab (PSD) ontem. A ideia surgiu após reunião no último sábado com a Secretaria de Habitação (Sehab). "A gente está decidido a não sair. A sugestão é colocar os drenos com os moradores aqui."Segundo a moradora Aline do Nascimento, de 21 anos, a Prefeitura prometeu instalar drenos ontem, mas nenhum foi colocado. "Eles (Sehab) só estão tranquilizando, não estão solucionando nada. Prometeram trazer drenos, mas trouxeram extintores. Isso não resolve nossos problemas", reclamou a moradora.A Sehab diz que troca periodicamente os extintores e vai trazer mais hoje. Os moradores desmentem a pasta: relatam que há tempos não havia extintores.Uma comissão formada por moradores procurou a Defensoria Pública para evitar a remoção e propor uma ação contra a Prefeitura - por não ter tomado providências antes, mesmo sabendo da contaminação. Carentes de informação, a maioria dos manifestantes não entendia o imbróglio jurídico.A Bureau Projetos, contratada pela Prefeitura, fez medições ontem em 420 pontos de teste e não constatou altas concentrações de gás metano.Manifestação. O protesto organizado na Avenida Zaki Narchi só cessou por volta das 19h, após a intervenção da Polícia Militar e uma reunião dos policiais com os líderes comunitários do Cingapura. Não houve confronto. Durante o bloqueio, o trânsito foi desviado para vias próximas.As lideranças comunitárias pedem que nenhuma das cerca de 700 famílias deixe seus apartamentos e exibiram ontem faixas pintadas às pressas, com inscrições como "Estão querendo tomar a nossa moradia" e "Aqui não tem gás".

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