Presidente de tribunal é investigado por sumiço de processos

Ministério Público Estadual suspeita de prevaricação na apuração sobre desaparecimento de papéis de 20 casos tributários

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Por Alexandre Hisayasu e Fabio Leite
Atualização:

Atualizada às 15h31

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SÃO PAULO - O presidente do Tribunal de Taxas e Impostos (TIT) de São Paulo, José Paulo Neves, é investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE) por suspeita de prevaricação no caso que envolve o sumiço de ao menos 20 processos tributários. Eles continham multas milionárias aplicadas pela Secretaria da Fazenda a empresas acusadas de sonegar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no Estado. 

O Estado procurou Neves por meio da assessoria da Secretaria da Fazenda, mas o presidente do TIT não se manifestou na terça-feira, 14. Nesta quarta-feira, 15, o juiz fiscal encaminhou uma nota na qual afirma ter determinado a "conferência física dos processos em andamento" e que "todos os processos tributários que estavam desaparecidos já foram integralmente reconstituídos e definitivamente julgados pelo TIT".

Relatório feito pela Corregedoria da Fiscalização Tributária (Corcat) da pasta, em 2013, constatou que 20 casos de autuações, que somam R$ 32 milhões, constam da lista de “enviados pelo TIT e não recebidos pela unidade de destino”. O documento foi produzido após a Polícia Federal (PF) indiciar uma quadrilha acusada de furtar os processos do TIT para beneficiar empresas em troca de propina. Ao todo, oito acusados, incluindo quatro servidoras, são réus na ação penal movida em 2014 pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão aos Delitos Econômicos (Gedec) por formação de quadrilha.

Prédio da Secretaria de Estado da Fazenda de São Paulo Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Na denúncia, os promotores afirmam que, em 2012, quando já era presidente do TIT, Neves “tomou conhecimento da ocorrência do fato criminoso, consistente, no mínimo, no desaparecimento de dezenas de autos de processos fiscais, e não tomou qualquer providência de ordem administrativa, nem mesmo a lavratura de boletim de ocorrência para noticiar o fato ilícito à Polícia Judiciária”.

A única providência que teria sido tomada pelo presidente do TIT foi colocar câmeras de monitoramento no setor onde ficam os processos. Até 2012, quando a Operação Lava Rápido, da PF, desbaratou a quadrilha, todos os processos no órgão eram físicos. Hoje, segundo a Fazenda, 90% dos 10.297 casos já são eletrônicos, o que impediria esse tipo de fraude. 

Foi a partir de depoimentos das servidoras presas que a polícia chegou a juiz do TIT, Elcio Fiori Henriques, acusado de enriquecimento ilícito. Ele nega a acusação. Em 30 meses, de 4 de março de 2010 a 5 de outubro de 2012, Fiori - agente fiscal de rendas de carreira, com vencimento líquido de R$ 13 mil - construiu patrimônio de R$ 30,75 milhões. Em agosto de 2014, ele foi exonerado do cargo.

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Responsável por julgar processos tributários de todo o Estado, o TIT é vinculado à Coordenadoria de Administração Tributária (CAT), da Fazenda, cujo chefe até o mês passado era o agente fiscal de rendas José Clóvis Cabrera. Segundo os promotores, o número 1 da Receita Estadual também ficou sabendo do esquema antes da operação policial e nada fez. Junto com Cabrera, ao menos outros dez funcionários da cúpula do Fisco paulista foram exonerados desde o fim de junho. A exceção é o presidente do TIT, reconduzido ao cargo em janeiro.

Bilhão. Foi só após a operação da PF contra o esquema de corrupção na Fazenda, que a Corcat instaurou, em abril de 2013, um procedimento interno para apurar o sumiço de processos. No relatório, assinado por Cabrera em julho daquele ano, o órgão listou 118 processos fiscais, que somam R$ 1,3 bilhão em impostos sonegados e multas, que não haviam sido encontrados inicialmente no órgão. A corregedoria informa que, posteriormente, após nova pesquisa, todos foram encontrados, 12 foram reconstituídos pelo próprio TIT, mas lista 20 processos que deixaram o tribunal e não chegaram à unidade de destino.

Para o promotor José Carlos Blat, responsável pela investigação por improbidade administrativa contra José Paulo Neves na Promotoria do Patrimônio Público e Social, o relatório da corregedoria é insuficiente. “A investigação está em curso e diligências estão sendo realizadas independente das conclusões da Corregedoria da Fazenda. É preciso saber desses processos que sumiram, quais foram reconstituídos, julgados e quais os resultados dos julgamentos”, afirma. 

Blat aguarda ainda receber cópia do depoimento do doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Operação Lava Jato, que deflagrou o escândalo na Petrobrás, que foi ouvido pelo Gedec, no fim de junho, em Curitiba. Além de confirmar o que disse ao juiz Sérgio Moro, em outubro de 2014, no acordo de delação premiada, de que pagou mais de US$ 2 milhões de propina para fiscais do ICMS não aplicarem multas contra uma empresa, o doleiro deu mais detalhes do esquema.

 Foto: Infográfico Estadão
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