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Prefeitura quer usuários em hotel fora da Cracolândia

Administração diz que substituirá estabelecimentos no Programa De Braços Abertos ‘diante da constatação da ação criminosa do tráfico’

Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Juliana Diógenes e Fabiana Cambricoli
Atualização:

SÃO PAULO - Os únicos três hotéis vinculados ao Programa De Braços Abertos que se localizam no fluxo – aglomeração de usuários de crack para consumo da droga – serão descredenciados pela Prefeitura de São Paulo. Os beneficiários serão transferidos para outros estabelecimentos que ainda estão em definição pela gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). 

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“Diante da constatação da ação criminosa do tráfico na região, a coordenação do programa iniciou o processo de credenciamento de hotéis que substituam esses três estabelecimentos no atendimento aos beneficiários”, afirmou a administração municipal por nota. Atualmente, a Prefeitura tem sete hotéis credenciados e beneficia 470 usuários.

Das 500 novas vagas do programa anunciadas nesta quinta-feira, 16, por Haddad, 220 serão destinadas a dependentes químicos da região da Luz, no centro. As outras 280 vão para usuários de pelo menos três regiões da capital. A Prefeitura negocia o acolhimento dos novos beneficiários da Luz em dois hotéis do centro – fora do fluxo. O processo de inclusão de novos beneficiários terá início no próximo mês.

Nesta sexta-feira, 17, o secretário municipal de Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que dois hotéis estão em tratativas. “Existe um desejo já expresso pelos usuários que a Prefeitura encontre vagas na região central, mas fora do fluxo”, disse Padilha. “É de nosso interesse que o usuário do De Braços Abertos possa circular pela cidade, ter oportunidades e entrar no mercado de trabalho. Isso é positivo. Com o tempo, vamos tirando os pacientes da região do fluxo.”

Padilha adiantou que as outras 280 vagas do Programa devem ser criadas no Jardim São Luís, na zona sul Foto: Karl Stanzel/CONSEG

Padilha adiantou que as outras 280 vagas do Programa devem ser criadas no Jardim São Luís, na zona sul; na Vila Leopoldina, zona oeste; e na Cidade Tiradentes, zona leste. Nessas três áreas, de acordo com ele, as Secretarias da Saúde, Assistência Social, e Trabalho e Emprego já têm trabalho conjunto, o que facilitaria a criação da estrutura de acolhimento do De Braços Abertos, incluindo os hotéis. Na zona norte, já há um hotel que beneficia 60 usuários do projeto. A descentralização já deveria ter sido colocada em prática há cerca de um ano (mais informações nesta página).

“Começamos pelo território da Luz, que já tem cerca de 200 usuários interessados em participar e também porque é uma região com maior vulnerabilidade. Vamos incluir outras regiões ao longo do segundo semestre”, explicou Padilha. O De Braços Abertos foi criado em janeiro de 2014 e, segundo a Prefeitura, reduziu o uso de crack em até 88%. “Vamos querer que o programa cresça cada vez mais, seja permanente.”

Avaliação. Para o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, coordenador do programa de álcool e drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a expansão do programa é positiva, mas o projeto carece de avaliação mais aprofundada dos resultados. “É preciso uma avaliação externa que aponte dados concretos, como número de pacientes recuperados, quanto custa, quantos funcionários usa. Isso seria essencial para ter mais credibilidade.”

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O especialista destaca que apenas levar os dependentes para longe do fluxo não garante recuperação. “Não é ficando longe que o paciente vai deixar de usar drogas. O que fará isso é a consciência do dependente sobre seu problema e as medidas de apoio que podemos dar a ele, tanto terapêuticas quanto de assistência social”, ressalta.

Descentralização é anunciada há 2 anos

A descentralização do programa De Braços Abertos foi anunciada pela Prefeitura de São Paulo há quase dois anos, em agosto de 2014, e deveria ter sido colocado em prática em maio do ano passado, mas, por causa de problemas na licitação de trailers que ofereceriam atendimento multidisciplinar nos bairros, ainda não saiu do papel.

Em julho do ano passado, a administração municipal chegou a firmar convênio com três entidades que executariam as ações do programa em seis bairros da cidade – Lapa, Vila Mariana, Santo Amaro, M’Boi Mirim, Santana e Cidade Tiradentes. Na ocasião, o governo federal já havia repassado cerca de R$ 2,7 milhões para o programa.