SÃO PAULO - Um dos objetivos da nova gestão do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) é tentar impedir a destruição do que sobrou da Vila Maria Zélia, bairro operário construído na zona leste, em 1916, para os funcionários da antiga Companhia Nacional de Tecidos. O objetivo do conselho é tentar evitar mudanças nas 117 casas que mantêm a construção original do início do século 20.
Mais de 20 donos que fizeram reformas sem autorização do Conpresp foram notificados em 2013. Outros quatro já receberam multas emitidas a partir de fevereiro, com base nas novas regras de fiscalização do patrimônio histórico. Nos quatro casos, porém, os donos reclamam que fizeram reformas em sobrados abandonados e prestes a desmoronar.
"Quando eu comprei essa casa, por R$ 80 mil, só tinha mato e entulho aqui dentro. Nós fizemos toda a reforma, recuperamos tudo sem alterar o desenho da casa. É um absurdo agora eu ser multado. Queriam que o lugar ficasse abandonado para sempre?", questiona o autônomo Cristiano Cruz da Rocha, de 36 anos, que se mudou para a vila no ano passado com a mulher, a bancária Thais Soares, de 40. Eles foram multados em cerca de R$ 500. "O mato tinha crescido até dentro da casa", acrescenta a bancária.
Cupins. Quem trocou as antigas janelas de madeira por estruturas de ferro também foi acionado pelo governo. "O bairro inteiro está infestado de cupins, ninguém mais tem como manter essas portas e janelas de madeira. No bairro inteiro há só duas casas inteiramente originais de 1916. Todas as outras já foram reformadas", reclama Walda Silva, de 60 anos, que foi notificada a reformar as paredes da casa. "Disseram que está caindo, que eu preciso reformar. Mas não tenho dinheiro, vou fazer o quê? Morar debaixo da ponte com meu filho deficiente?".
A atual gestão do Conpresp também quer retomar a restauração de alguns edifícios da Vila Maria Zélia, como a do prédio do antigo restaurante da Companhia de Tecidos. As obras de restauro foram paralisadas em 2011. O governo também estuda uma forma de ajudar financeiramente as reformas solicitadas pelo Conpresp, segundo Nadia Somekh, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), órgão da Secretaria Municipal de Cultura.