Polícia prende dois black blocs em flagrante em protesto na Paulista

Fábio Hideki Harano, de 26 anos, e Rafael Marques Lusvarghi, de 29, são acusados de 'associação criminosa'

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Por Luciano Bottini Filho e Rafael Italiani
Atualização:

Atualizada às 21h02

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SÃO PAULO - O secretário estadual da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, anunciou nesta terça-feira, 23, que os dois manifestantes presos durante o ato contra a Copa, na segunda-feira, na Avenida Paulista, no centro de São Paulo, foram indiciados por associação criminosa. De acordo com ele, os acusados são os primeiros black blocs presos em flagrante pela Polícia Civil paulista. O governo Geraldo Alckmin (PSDB) fechou o cerco também contra o Movimento Passe Livre (MPL) e informou que vai convocar seus membros para depor, mesmo que à força.

“É a resposta da lei para esses indivíduos”, disse Grella sobre as prisões em flagrante. Segundo o secretário, eles estavam “incitando os manifestantes contra os policiais e foi necessária uma ação para conter os atos de violência”.
O estudante de Jornalismo e funcionário da Universidade de São Paulo (USP) Fábio Hideki Harano, de 26 anos, e o professor Rafael Marques Lusvarghi, de 29, foram detidos por policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) após a dispersão do ato, que terminou sem registro de vandalismo. 
Harano é acusado de ser o líder dos manifestantes. Ele foi abordado na Estação Consolação, quando, de acordo com a polícia, praticava atos de vandalismo, com máscaras de gás, coquetel molotov e capacete. No momento da prisão de Lusvarghi, um policial do Deic teria sido atacado por 20 ativistas. Foi dele um tiro disparado paro alto. A polícia, no entanto, entende que foi legítima defesa.
Os advogados dos detidos negam que eles sejam adeptos da tática Black Bloc e contestam as acusações. 
Na manifestação de quinta-feira passada, quando a Polícia Militar ficou a distância do ato do MPL, houve quebra-quebra e uma concessionária de carro de luxo foi atacada por mascarados em Pinheiros, na zona oeste. Nesta terça, Grella voltou a classificar como “equívoco” a demora da ação da PM. “Não vai se repetir”, afirmou. 
Durante o lançamento do programa para reforço da segurança nas escolas estaduais pela PM, Alckmin avaliou positivamente a ação da polícia no protesto de anteontem. “Foi positivo, tanto é que não houve incidente. A polícia tem o dever de agir”, disse o governador.
Intimação. A Polícia Civil fará a condução forçada dos 22 integrantes do MPL intimados para depor na segunda-feira, durante o jogo do Brasil e Camarões, na Copa do Mundo, sobre atos de violência em manifestações. 
De acordo Grella, o procedimento tem previsão legal e será usado contra o grupo. Eles se recusaram a comparecer ao Deic. O secretário disse que os ativistas serão ouvidos “sem dúvida nenhuma”. “Nós vamos fazer cumprir a lei.”
O MPL já apresentou um habeas corpus para tentar trancar o inquérito no Deic, mas nenhuma decisão foi publicada. Os ativistas negam qualquer suposta ligação com black blocs. “Conversamos com qualquer manifestante nas ruas, estejam eles com rosto coberto ou não”, disse Matheus Preis, de 21 anos, porta-voz do MPL. “Com os black blocs, não existe articulação formalizada ou contato formal, mesmo porque eles não são um grupo organizado.”
Parte dos ativistas chamados é dos que assinaram um carta envida a Grella, no dia 30 de maio. O documento foi entregue em um ato no qual eles se amarraram ao edifício-sede da Secretaria da Segurança Pública, na Rua Líbero Badaró. 
Para Lucas Monteiro, outro porta-voz do MPL, o inquérito é ilegal. “Os militantes estão sendo constrangidos, prática padrão do Estado brasileiro. Não reconhecemos esse inquérito, é uma forma de perseguição”, disse. Segundo ele, a SSP quer intimidar o MPL e criminalizá-lo. “Não foi à toa que nos acorrentamos à secretaria.”

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