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Periferia concentra alta de acidentes

Das vias que tiveram aumento no número de atropelamentos, só uma, a São João, é no centro; Sapopemba tem mais casos: 65 neste ano

Por CAIO DO VALLE
Atualização:

O programa de proteção aos pedestres, iniciado em maio na região central de São Paulo, não foi suficiente para reduzir o número de atropelamentos em algumas das avenidas mais violentas da cidade. Dos dez corredores onde mais pessoas foram atingidas por veículos entre janeiro e agosto na capital paulista, seis apresentaram aumento de ocorrências em relação ao mesmo período do ano passado.Os dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) apontam que as vias que concentram os atropelamentos continuam na periferia, onde ações do programa de proteção aos pedestres ainda são muito limitadas. Segundo Luiz de Carvalho Montans, gerente de Segurança da companhia, a campanha de proteção ao pedestre, hoje no centro, será expandida para as áreas mais afastadas.Com 45 quilômetros de extensão, a Avenida Sapopemba, na zona leste, é a mais longa da cidade de São Paulo. Em boa parte de seu trajeto, existem muitas lojas e serviços em ambos os lados. Por isso, é comum observar pedestres atravessando fora das faixas, aventurando-se entre os carros, motos e ônibus que compõem um tráfego relativamente pesado para a largura da avenida, que é estreita.No trecho que passa pela Água Rasa, a reportagem encontrou semáforos para pedestres e faixas a cerca de 200 metros entre si. Porém, dois dos sinais tinham lâmpadas queimadas ontem: um na Praça Eduardo Taberneiro Rangel e outro na altura do número 2.985. Nos dois locais, havia muitos idosos esperando para atravessar.O jornaleiro Fernando Daniel da Silva, de 43 anos, tem uma banca perto do primeiro semáforo. Ele diz que a sinalização horizontal no asfalto é o principal problema e é o motivo do desrespeito dos motoristas. A faixa de pedestres diante daquele sinal está bastante desgastada. A reportagem viu um carro parar nela enquanto pedestres atravessavam.No centro. Na lista das vias que tiveram aumento de atropelamentos, uma avenida destoa de todas as demais: a São João, no centro, região na qual começou a campanha da CET em defesa dos pedestres. Neste ano, houve 32 atropelamentos na via, um a mais do que durante os oito primeiros meses do ano passado.A companhia não tem uma explicação para isso mas, na tarde de ontem, a reportagem flagrou várias pessoas se arriscando ao atravessar no sinal vermelho e fora da faixa, perto da esquina com a Avenida Ipiranga.O operador de telemarketing Rodrigo Wendel da Silva, de 18 anos, era uma delas. "O farol dos pedestres fecha rápido e demora para abrir. Não fico esperando ficar verde para atravessar." O auxiliar de cozinha Marco Bertoni, de 33 anos, cruzou no vermelho e acredita que o desrespeito dos próprios pedestres às regras contribui para os atropelamentos. "Tem muita gente mesmo que começa a atravessar sem olhar", diz.Para o ex-ombudsman da CET, o engenheiro Luiz Célio Bottura, é preciso ter mais fiscalização, com agentes para multar infrações. "É como na escola: sem repressão não se passa de ano. Poucas são as pessoas que aprendem sem a punição."'Vitória'. Luiz de Carvalho Montans, da CET, afirma que, neste caso, estatisticamente, o aumento não é significativo. "Com o aquecimento da economia, com mais carro na rua e mais gente andando, a gente conseguir manter os números antigos já é uma vitória", acredita.Segundo a CET, no centro, o número de atropelamentos com morte caiu 41,7% entre 11 de maio (início da campanha) e 31 de agosto, no comparativo com o mesmo período do ano passado. Foram sete mortes provocadas por esse tipo de acidente neste ano, ante 12 em 2010.1.As vias com mais atropelamentos estão na periferia. Está faltando ação mais efetiva da CET nesses locais? É preciso melhorar a infraestrutura dessas regiões. Com o programa de pedestres, praticamos algumas ações que levaram à redução dos atropelamentos. Então, vamos expandir para esses corredores.2.Há uma ação programada para a Avenida São João? Vamos manter o programa. A gente tem colocado orientadores. A campanha vale para os pedestres também, para que eles se comportem melhor e tomem mais cuidado.

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