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Perfil: A nova música do vereador Eduardo Suplicy

Petista volta à Câmara dos Vereadores de São Paulo, Casa que presidiu há 27 anos, desta vez para fazer oposição, e canta sucesso de Paulo Vanzolini

Por Bruno Ribeiro
Atualização:

SÃO PAULO - Enquanto mexe o adoçante em uma xícara de café, em uma livraria do centro de São Paulo, Eduardo Suplicy (PT), de 75 anos, pergunta: “Você conhece aquela música do Paulo Vanzolini (interpretada por Noite Ilustrada), ‘Volta por Cima’?” E começa a cantarolar: “Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima...”

O petistaEduardo Suplicy, vereador eleito com mais votos em São Paulo nas eleições de 2016, posa na frente de seu quadro de quando presidiu a Câmara dos Vereadores de 1989 a 1990 Foto: AMANDA PEROBELLI / ESTADÃO

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A música era resposta à pergunta sobre como havia sido a campanha que o levou de volta à Câmara Municipal, Casa que presidiu de 1989 a 1990. A “queda” foi a derrota na eleição para o Senado em 2014 para José Serra (PSDB), que o deixou sem cargo eletivo após 25 anos. A volta por cima foi o resultado do pleito: vereador mais votado, com 301 mil votos, num ano em que o PT foi banido do Executivo da Grande São Paulo.

Suplicy é assim. Em cada período, uma música. No governo de João Doria (PSDB), Suplicy se prepara para ser oposição. Mas ao seu modo: longas conversas, com sua fala pausada, e em busca da troca de ideias. Há um mês, Doria telefonou para parabenizá-lo e eles se encontraram. Suplicy levou 54 cartas de pessoas atendidas pelo programa Braços Abertos, para dependentes da Cracolândia, que descreviam benefícios do projeto. “Ele (Doria) me disse que não iria interromper nada que estivesse dando certo.”

Agora, anda distribuindo um livro sobre a cooperativa dos vendedores ambulantes do Parque do Ibirapuera, escrito por sua namorada, Monica Dallari. “Ajudei a formar a cooperativa”, conta, receoso de que a concessão do parque à iniciativa privada prejudique os trabalhadores.

Nos dois últimos anos, à frente da Secretaria Municipal de Direitos Humanos da gestão Fernando Haddad (PT), Suplicy ajudou a criar um projeto que regulamenta na cidade a lei da Renda Básica de Cidadania, de 2004 – seu “mantra” político. “A lei diz que o programa deve ser iniciado em etapas.” Só na sexta-feira (30), Haddad enviou o projeto ao Legislativo.

Ser ignorado pelos aliados não é novidade para Suplicy. Ele conta as datas e as vezes, desde 2014, que procurou e não foi recebido pela então presidente Dilma Rousseff. Guarda no computador as 32 cartas que lhe enviou. “Em uma ocasião, ela me disse: ‘O que você me pede eu não posso dar agora, Eduardo’.” “Ele é nossa reserva moral e vai fazer um trabalho importante na Câmara”, diz o vereador Arselino Tatto (PT).

Celebridade. Acompanhar Suplicy pela rua mostra que ele é maior que o PT. Ele é abordado tantas vezes por populares que não dá para manter a conversa. “Não voto mais no PT. Mas o senhor me venceu. No senhor, eu votei”, disse-lhe uma mulher. Da Câmara, passando pela Prefeitura até chegar a sua casa, no Jardim Paulistano, zona sul, Suplicy foi abordado por 11 pessoas, todas elogiosas. Ele agradece. Nas mulheres, dá beijo e abraço.

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Foi assim também, diz, na campanha e quando ganhou o título honoris causa em 2015 da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, por sua “alta postura moral e ética”. Na celebração, cantou Blowing in the Wind, do americano Bob Dylan, a mais famosa das músicas do repertório de Suplicy.