PCC usou vans em São Paulo para lavagem de dinheiro

Pela primeira vez, há uma denúncia ligando o serviço municipal ao tráfico; envolvidos negam acusação

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Por Bruno Ribeiro
Atualização:

SÃO PAULO - Vans que trabalharam como permissionárias para a Prefeitura de São Paulo foram usadas por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavar dinheiro obtido com o tráfico de drogas, segundo denúncia feita à Justiça contra duas pessoas pelo Ministério Público Estadual (MPE). A acusação diz que os suspeitos movimentaram cerca de R$ 1 milhão entre 2004 e 2007, quando foram presos.

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A denúncia se deu como sequência de uma acusação de tráfico de drogas, em que seis pessoas foram indiciadas. Para o MPE, os acusados Geralda Jorge da Silva e Marcos Paulo Vidal de Castro investiam o dinheiro obtido com o tráfico em vans da cooperativa Cooperpeople para “potencializar” os ganhos com as drogas e para “dissimular” o dinheiro ilícito. 

Advogado da dupla, o criminalista Adriano Salles Vanni argumenta que não há condenação contra eles por tráfico de drogas - assim, não haveria dinheiro a ser lavado. O Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec) do MPE ofereceu a denúncia no dia 19 de setembro. Ela ainda não foi aceita pela Justiça.

Segundo o texto, Castro foi um dos líderes do tráfico na favela de Heliópolis, na zona sul da capital. Ambos foram presos por tráfico em 2006, com mais quatro pessoas, após investigação que incluiu escutas telefônicas. Antes disso, em 2005, a casa de Geralda já havia sido alvo de um mandado de busca e apreensão, durante investigação sobre o assassinato de um policial militar.

Depois da prisão, a Polícia Civil e o MPE identificaram depósitos de R$ 1.036.160,34 em duas contas - uma dela, do Banco Itaú, e outra dele, do Bradesco, com movimentações datadas entre janeiro de 2004 e novembro de 2007. “Os valores originários do tráfico foram dissimulados por meio de investimentos feitos em vans, que circulavam em linhas da Coopertranse no transporte coletivo alternativo, especificamente na linha da Vila Ema (zona leste de São Paulo)”, diz a denúncia. Coopertranse era o antigo nome da Cooperpeople, cooperativa que atua na zona leste. 

A denúncia diz ainda que Geralda confessou trabalhar para Castro na Cooperpeople. Documentos da empresa foram apreendidos na casa dela. O texto diz que eles “se valiam de terceiros” para registrar os veículos sem aparecerem. Os nomes dos “laranjas” não constam na peça de acusação. 

Lotações. Essa é a primeira denúncia feita à Justiça em que há relação formal entre o PCC e as vans municipais. O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do MPE, e a Polícia Civil já fizeram diversas investigações do caso, mas sem chegar à fase de denúncias criminais. Em uma dessas investigações, flagraram o deputado estadual Luiz Moura (sem partido, ex-PT), que tem sua base nesse setor, em uma reunião com suspeitos de ligação com a facção.

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Exigências mudaram em 2012, diz SPTrans

A São Paulo Transporte (SPTrans), empresa da Prefeitura que gerencia os ônibus e as lotações da cidade, disse em nota que um decreto de 2012 estabeleceu padrões técnicos e operacionais mais exigentes tanto para cooperativas de vans da cidade quanto para empresas de ônibus. “(O decreto) determina que cooperados e permissionários comprovem os mesmos padrões, incluindo apresentação periódica de atestado de antecedentes criminais”, diz o texto. O atestado chegou a ser exigido pela Prefeitura em 2004, mas depois a regra havia sido flexibilizada. 

Ainda de acordo com a SPTrans, o dois acusados citados pelo Ministério Público Estadual jamais constaram nos arquivos da empresa. Segundo a SPTrans, 289 vans foram apreendidas neste ano sendo operadas por motoristas não autorizados. 

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