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Parada Gay de São Paulo mistura festa e demanda contra homofobia

Com 100 mil pessoas, segundo a PM, público do evento foi menor do que nos anos anteriores; organização culpa mudança na data

Por Luciana Ferreira , Marina Azaredo e Victor Vieira
Atualização:

São Paulo - A Parada Gay de São Paulo misturou, neste domingo, 4, em sua 18.ª edição, a mistura da crescente responsabilidade política, com cobranças pela criminalização da homofobia, e as raízes de festa, marcada por fantasias e performances artísticas. Segundo a Polícia Militar, cerca de 100 mil pessoas foram à Avenida Paulista. Já os organizadores estimam entre 3 e 4 milhões.Na manhã de domingo, nas cerimônias que antecederam a festa, o presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT, Fernando Quaresma, reivindicou a inclusão da criminalização da homofobia no projeto de reforma do Código Penal, em tramitação no Congresso Nacional. Outro pedido de Quaresma foi a aprovação da Lei de Identidade de Gêneros, que facilita a cirurgia de troca de sexo e a mudança de registro civil para transexuais. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) ainda anunciou neste domingo que o Casarão Franco de Mello, no número 1.919 da Avenida Paulista, abrigará o Museu da Diversidade, hoje em um espaço expositivo na Estação República do Metrô. "Ela (a mansão na Paulista) vai ser todinha restaurada." Alckmin não deu, entretanto, prazo para a abertura do imóvel, que nem sequer foi desapropriado pelo governo do Estado. O prefeito Fernando Haddad (PT) e a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos, também participaram do evento.Mobilização. No começo da tarde na Paulista, foram retomados o discurso contra o preconceito e a agenda de reivindicações. "Vamos cobrar e aplaudir os políticos que nos defendem. Devemos lutar pela igualdade de direitos", incentivaram os mobilizadores, de cima de um dos 14 trios elétricos. Em ano eleitoral, representantes de partidos políticos aproveitaram a festa para distribuir santinhos de apoio à causa LGBT. Um boneco inflável do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que presidiu em 2013 a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara sob críticas de movimentos sociais, foi visto entre a multidão. A impressão era de que o público recuou em relação aos últimos anos. "Antecipamos em um mês por causa da Copa do Mundo e estávamos incertos em relação ao público", disse Marcos Freire, um dos diretores do evento. "Mas não temos essa preocupação numérica. O importante é que as pessoas estejam na rua.""Estava bem mais cheio nos anos anteriores", reconheceu o garçom Marcos Queiroz, de 32 anos, que foi à festa na Paulista pela oitava vez. Segundo ele, os protestos políticos são importantes para pressionar os governantes, embora as conquistas de direitos sejam muito lentas. Diversão. A drag queen Bárbara Moon, de 22 anos, acredita que a militância fica para os organizadores da parada e participantes mais antigos. "Há momentos políticos, que são importantes, mas a maioria se esquece disso na festa. Venho para me divertir", admitiu ela, com vestido e maquiagens extravagantes. Quem nunca havia assistido ao evento se impressionou com a irreverência e a organização. "Viemos por curiosidade e não sofremos nenhum assédio", contou a médica Ana Carolina Figueiredo, de 26 anos, que levou o namorado. "Ele não queria vir, mas depois percebeu que não tinha problema." Mesmo sem falar o idioma da maioria, o escocês Neil Christensen, de 37 anos, curtiu a festa. "Viajei só pela parada e é muito animado. Gostaria de vir outra vez", disse ele, acompanhado de amigos brasileiros e estrangeiros. No fim do dia, participantes se concentraram na Praça da República para os shows de encerramento. A principal atração foi a cantora Wanessa Camargo, em sua primeira participação na festa. "Fico feliz de estar aqui como brasileira que acredita em um país mais justo pra todo mundo. Já avançamos muito graças as pessoas que organizam isso aqui mas é preciso lembrar que ainda falta muito pra chegar aonde a gente quer", disse. Bafafá. No final da festa, organizadores reclamaram da estrutura organizada pela Prefeitura. "Não conseguimos nem acompanhar o show da Wanessa porque os seguranças nos impediram de entrar na área na frente do palco", disse Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT. "Faltavam várias coisas, como telão. Os seguranças eram despreparados, alguns até bêbados. No camarote, de 600 convites, recebemos só 170", afirmou. O coordenador de políticas LGBT da Secretaria de Direitos Humanos, Alessandro Melchior, disse que foi feito um acordo sobre as cores de pulseirinhas que seriam liberadas no backstage, mas não foi obedecido. "Muita gente tentou entrar sem pulseira e nossos seguranças estavam barrando. Mas nossos seguranças acabaram sendo constrangidos a liberar muita gente, o que gerou vários problemas na área do palco", disse Melchior. "A Prefeitura paga dois terços desse evento e nem subiu no palco."

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