O ‘pai’ dos novos pontos da cidade

O carioca Guto Indio da Costa assina os quatro modelos que têm sido instalados nas ruas de SP

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Por Edison Veiga
Atualização:

Em três frases - ditas separadamente -, é possível entender por que chamaram o designer industrial carioca Guto Indio da Costa, de 44 anos, para desenvolver os modelos dos novos pontos de ônibus de São Paulo. 1.ª: "Sou carioca por teimosia, porque venho para São Paulo (onde estão seus principais clientes) pelo menos uma vez por semana." 2.ª: "Já tomei bastante ônibus em São Paulo, sei que não é uma tarefa fácil." 3.ª: "A gente entende de gente, de como as pessoas se relacionam com as coisas."

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Guto tem a preocupação com a estética no DNA. Seu pai é o arquiteto Luiz Eduardo Indio da Costa. Sua mãe, Ana Maria, é designer de interiores. Tem duas irmãs: Gabriela é artista plástica e Mariana, também designer de interiores. "Só Antonio acabou enveredando por outro caminho", comenta Guto, sobre o irmão que, formado em Direito, entrou para a política - em 2010, foi candidato a vice-presidente do Brasil na chapa de José Serra (PSDB) e é um dos fundadores do PSD, mesmo partido do ex-prefeito Gilberto Kassab.

Polêmicas. Mas não é pela ligação do irmão com o então prefeito na época em que o acordo dos novos abrigos de ônibus foi firmado que Guto teve de ouvir poucas e boas. Quando os pontos começaram a ser instalados, em fevereiro, a reclamação era de que o modelo todo de vidro deixava os usuários expostos ao sol. "Chegaram a me questionar no Twitter. Mas desde o início estava prevista a instalação de uma proteção anti-ultra-violeta e anti-infravermelho que reduz brutalmente a radiação solar, deixando passar apenas 3% de luz e calor", explica. "As pessoas precisam entender que obra é assim mesmo, os pontos que não têm isso ainda não foram completamente finalizados."

Segundo balanço da concessionária Otima, que administra os abrigos, até o momento foram instalados 311 pontos - 213 ainda não foram finalizados. Até o fim do ano, a empresa pretende instalar 1,4 mil novos pontos - a meta é substituir todos os 6,5 mil até 2015.

As reclamações, entretanto, não partem apenas dos usuários. "Esses novos pontos não servem para a população se abrigar, qualquer chuvinha molha tudo. Servem como desculpa para trazer a publicidade de volta às ruas", critica o arquiteto Lúcio Gomes Machado, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Ele também vê problemas na maneira como o escritório de Guto - onde atuam cerca de 50 profissionais, entre os quais 20 designers - foi escolhido. "Um concurso seria mais correto, em vez de deixar para uma concessionária a definição."

Em nota, a concessionária explica que contratou Guto por "sua vasta experiência no design de mobiliários urbanos, desde o projeto do Rio Cidade Leblon, de 1993, até o de quiosques e restaurantes de Copacabana".

Currículo. Guto iniciou os estudos de Desenho Industrial na então Faculdade da Cidade (hoje, UniverCidade). Formou-se pelo Art Center College of Design, da Califórnia, e nos anos 1990 trabalhou em escritórios na França, Dinamarca e Alemanha. Em 1995, voltou definitivamente ao Brasil para cuidar das áreas de design e transporte do escritório do pai. O primeiro projeto foi a implantação do Rio Cidade Leblon, ganhador de diversos prêmios. "Pensamos em tudo: dos pontos de ônibus aos orelhões."

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Com essa bagagem, Guto passou a ser requisitado em projetos de mobiliário urbano - há criações dele em Aracaju e Juiz de Fora, por exemplo. "Acredito que o mobiliário urbano é definidor da identidade de uma cidade." Mais um detalhe: Guto achou impossível resumir a personalidade de São Paulo em um só modelo de pontos de ônibus. Por isso, criou quatro: caos estruturado, minimalista com ginga, high tech e brutalista.

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