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‘NY fez 320 km de ciclovias que só foram aceitas após 6 anos’

Ex-diretor de Transportes da cidade americana diz que, como em SP, projeto também sofreu resistência por lá

Por Caio do Valle
Atualização:

SÃO PAULO - Ex-diretor do Departamento de Transportes de Nova York, Jon Orcutt veio a São Paulo para participar de uma oficina da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para tratar da expansão das ciclovias na capital paulista. Ele supervisionou a criação de centenas de quilômetros de ciclovias na metrópole americana, além de coordenar o fechamento definitivo da Times Square para carros.

"É uma questão de equilibrar as prioridades" Foto: Caio do Valle/Estadão

Existem semelhanças entre os problemas no trânsito de São Paulo e Nova York?

Sim. É muita gente em áreas pequenas. No século 20, todo o planejamento das cidades foi pensado para comportar mais carros. Agora, é uma questão de equilibrar as prioridades. 

Quais as impressões a respeito das ciclovias paulistanas?

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Ainda não pude pedalar ou olhá-las com mais atenção, mas elas são bastante chamativas. O que é ótimo.

São Paulo tem 1,1 mil mortes no trânsito por ano. O senhor acha que, como em Nova York, que está adotando o programa Vision Zero, aqui também é possível reduzir o número a zero?

Sim. Zerar é uma meta e, mesmo em países como a Suécia e o Japão, onde as mortes no trânsito são muito baixas, é muito difícil chegar a zero, de fato. Esse zero é mais uma filosofia de como devemos lidar com as ruas e os acidentes, que podem ser prevenidos. Muito disso depende de políticas públicas. Como alterar alguns cruzamentos, para que os veículos passem mais devagar. O congestionamento pode aumentar, mas fica mais seguro. Baixamos a velocidade máxima para 40 km/h na maior parte das ruas. Acidentes em velocidades mais baixas são menos lesivos e mortais.

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Aqui, faixas para ônibus e ciclovias tendem a ter reações de alguns setores. E lá?

É a mesma coisa. Criticar o governo é o esporte favorito da população de Nova York. A rede de ciclovias foi um desses projetos. Construímos 320 km e surgiram brigas por causa delas. Em 2011, algumas pessoas chegaram a nos processar (contra as ciclovias). Hoje, é bem diferente. Por isso, o poder público precisa saber absorver essa primeira onda de críticas. 

Quanto tempo levou para haver uma aceitação geral das ciclovias em Nova York?

Foi em 2007 que começamos a instalar as ciclovias e, provavelmente, só seis anos depois (houve a aceitação geral). É um processo, uma mistura no fundo, porque além das críticas houve apoio às ciclovias. Lançamos, em 2013, o sistema público de bicicletas compartilhadas, que realmente mudou o foco. Pararam de brigar por causa das ciclovias e passaram a falar das celebridades e políticos que andam de bike. Ter ciclovia dá opções às pessoas. 

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