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Novo reitor terá missão de pacificar comunidade

Integrantes das chapas que concorrem ao cargo admitem que será preciso abrir o diálogo e rever as regras das eleições

Por Bruno Paes Manso
Atualização:

Elevada evasão de alunos da graduação, gastos excessivos em relação à receita e sucateamento dos métodos de ensino diante dos avanços da tecnologia da informação. Além de enfrentar os imensos desafios para garantir a excelência da Universidade de São Paulo (USP) nos próximos anos, o novo reitor vai assumir o cargo com a missão de ampliar os canais de diálogo com alunos, funcionários e professores para pacificar a comunidade uspiana já no ano que vem.Essa é a opinião dos integrantes das quatro chapas que concorrem ao cargo de reitor e vice-reitor da USP na eleição de 19 de dezembro. Cinco dias antes, será divulgado o resultado de uma consulta indicativa (sem efeito decisório) a todos os alunos, professores e funcionários sobre o candidato preferido. Todos os candidatos admitem iniciar a gestão revendo a forma como são escolhidos os cargos de comando na USP. Dois pontos devem ser reformados. Primeiro, o peso dos votos dos alunos e dos funcionários deve aumentar na escolha do reitor. Atualmente, essas duas categorias dividem 15% dos votos. Cerca de 85% dos votos vêm dos professores. A proporção dos docentes deve cair para a casa dos 70%, como define a Lei de Diretrizes e Bases (LDB).Em segundo lugar, os candidatos também concordam em dar mais autonomia para a escolha dos diretores de cada uma das unidades. Hoje, o reitor escolhe os diretores a partir de uma lista tríplice enviada pelas faculdades. A ideia é que a escolha passe a ser feita diretamente nas unidades.Para os observadores do processo eleitoral na universidade, esse consenso em torno da ampliação da participação na USP já é resultado da reforma promovida pelo Conselho Universitário no dia 1.º de outubro, liderada pelos diretores das unidades, que mudou as regras da votação neste ano.Entre as principais mudanças, neste ano a eleição ocorrerá em um único turno, com mais de 1.900 eleitores (85% professores). Até o ano passado, a decisão final era feita no segundo turno por 325 pessoas, integrantes dos conselhos universitários e dos conselhos centrais, permitindo ao leitor maior margem de manobra para fazer o sucessor.Além disso, os candidatos foram obrigados a inscrever chapas e colocar seus programas no papel. Até a última eleição, todos os professores titulares eram considerados candidatos em potencial, o que facilitava surpresas e manobras políticas. "O discurso consensual favorável à ampliação do diálogo é interessante. Só é preciso ficar atento se não passa somente de discurso para conquistar essa base de votos ampliada", pondera o professor Brasilio Sallum Jr., titular do departamento de Sociologia.Entre as quatro chapas, duas são apontadas como mais próximas ao atual reitor, João Grandino Rodas. A chapa 4, "Mantendo o Rumo", encabeçada pelo geógrafo Wanderley Messias, que tem a ex-reitora Suely Vilela como candidata a vice, é considerada como representante da continuidade. "A infraestrutura da universidade melhorou, a USP se internacionalizou e houve avanço nas carreiras de funcionários e professores. Mas é preciso ampliar o diálogo para pacificar a USP", diz.O economista Hélio Nogueira da Cruz foi vice-reitor na atual gestão. Ele defende que a universidade deve apostar na ampliação da diversidade dos alunos, sem que para isso tenha de perder a excelência. Cruz também acredita ser urgente a ampliação dos canais de diálogos com a comunidade uspiana e aponta a urgência na contenção dos gastos. "Os gastos atualmente estão acima das receitas, o que vem queimando a reserva financeira da universidade. Os investimentos foram importantes, mas devem ser feitos de acordo com a realidade das receitas", diz.Dois pró-reitores, Marco Antonio Zago (Pró-reitoria de Pesquisa) e Vahan Agopyan (Pró-reitoria de Pós Graduação), estão associados ao movimento dos diretores que liderou as reformas de 1.º de outubro, o que associa a chapa à renovação. "É preciso investir na graduação, cuja evasão já alcança os 20%. Também é preciso melhorar as tecnologias de ensino", diz.O aumento no total de investimentos na graduação também é apontado como o eixo da candidatura do engenheiro José Roberto Cardoso, que foi diretor da Faculdade Politécnica e o único que não participou da gestão atual. "Como diretor, estou na linha de frente da batalha. Tenho a visão do soldado e não a dos coronéis, como ocorre com meus concorrentes", diz.A eleição vai definir três vencedores. Apenas um fica de fora da lista tríplice a ser encaminhada ao governador Geraldo Alckmin, que toma a decisão final.

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