Nove pessoas morrem pisoteadas durante baile funk em Paraisópolis

Tragédia aconteceu na madrugada deste domingo após chegada da Polícia Militar ao local

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Por Paula Felix e Marco Antônio Carvalho
4 min de leitura
Vista geral da favela de Paraisopolis, zona sul de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

SÃO PAULO - Nove pessoas morreram pisoteadas e 12 ficaram feridas durante tumulto após ação da Polícia Militar em baile funk na comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, na madrugada deste domingo, 1.º. A corporação afirma que os agentes de segurança perseguiam dois suspeitos em uma moto, quando entraram no local da festa, que reuniu cerca de 5 mil pessoas. Já moradores, em relatos e vídeos, acusam os PMs de agir com truculência. O Estado informou que vai investigar as circunstâncias das mortes para apontar se houve excessos. 

Os nomes dos mortos não foram divulgados. Segundo a PM, eram oito homens (ao menos dois adolescentes) e uma mulher. Muitas das vítimas não eram de Paraisópolis, segundo moradores, o que pode ter dificultado tentativas de fuga do local, que tem cerca de 100 mil habitantes e é vizinho ao Morumbi, bairro de classe média alta da zona sul. 

Conforme a versão oficial, seis PMs estavam na Avenida Hebe Camargo, perto da comunidade, quando uma dupla passou de moto por volta das 5h30 da manhã e atirou contra os policiais. Conforme a PM, a dupla fugiu em direção à festa e foi perseguida. Ao chegar ao baile, os policiais dizem que começou o tumulto e os suspeitos se esconderam na multidão. Isso teria feito com que participantes da festa, em pânico, tropeçassem e se machucassem gravemente. 

“Usaram as pessoas como escudos humanos para tentar impedir a ação da polícia”, afirmou o porta-voz da PM, tenente-coronel Emerson Massera. “As pessoas foram na direção (dos PMs) arremessando pedras e garrafas. Houve necessidade de munição química. Quatro granadas, duas de efeito moral e duas de gás lacrimogêneo, além de oito disparos de bala de borracha para dispersar as pessoas que estavam no local colocando em risco a vida dos policiais e dos frequentadores.” Conforme a PM, não houve disparo de armas de fogo, mas os equipamentos dos agentes foram apreendidos para análise pericial. Não houve suspeitos detidos. 

Em relatos nas redes sociais e ao Estado, testemunhas afirmam que os PMs cercaram os participantes da festa nas vielas da comunidade e apontam truculência dos agentes de segurança. Nas redes sociais, circulam vídeos de supostas agressões cometidas por PMs, mas não há confirmação sobre data e local exatos das gravações. Nas imagens, é possível ver também que as pessoas ficaram encurraladas em becos. 

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(As pessoas) não foram encurraladas. Uma pessoa tropeçou e caiu. Outras estavam tentando sair e pisotearam”, disse o porta-voz da polícia, destacando que a investigação ainda apontará se houve falha. Segundo ele, vídeos recebidos pela PM serão analisados para apontar se as gravações se referem de fato ao baile e se houve excessos. Algumas imagens, disse, “sugerem abusos e ação desproporcional por parte da polícia”, mas ainda não é possível dizer se são verdadeiras e se há culpados. 

O governador João Doria (PSDB), disse, no Twitter, ter determinado “apuração rigorosa” para esclarecer “as circunstâncias e responsabilidades deste triste episódio”. A Polícia Civil e a Ouvidoria das Polícias também vão apurar o caso. 

Crítica

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“Todas as circunstâncias precisam ser apuradas, se de fato houve perseguição policial contra suspeitos ou se isso foi inventado como álibi”, disse o advogado Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual de Direitos Humanos. “Mas, mesmo tendo perseguição, não se justifica esse tipo de ação. Deveria ter planejamento maior, já que ali estavam cinco mil pessoas.”

À noite, centenas de moradores carregaram cruzes e cartazes em protesto pelas ruas de Paraisópolis. Motociclistas acompanharam o cortejo, que por vezes parou para lembrar os nomes das vítimas.

Festa de Guarulhos em 2018 teve três mortes após ação policial

Em novembro do ano passado, uma ação policial em um baile funk em Guarulhos, na Grande São Paulo, também terminou com tumulto e três mortos. Segundo testemunhas, a confusão teve início quando Polícia Militar (PM) jogou bombas e spray de pimenta nos participantes da festa. 

No local, morreram pisoteados Marcelo do Nascimento Maria, de 34 anos, Micaela Maria de Lima Lira, de 27 anos, e Ricardo Pereira da Silva de 21 anos.  À época, a PM instaurou inquérito policial-militar para apurar todas as circunstâncias dos fatos e verificar se há conexão entre as mortes e uma tentativa de abordagem dos agentes de segurança. Procurada neste domingo, a Secretaria de Segurança Pública disse que somente seria possível informar se houve conclusão dessa apuração na segunda-feira. 

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