A condenação das ruas: existir e ser invisível

Número de pessoas que vivem sem um teto chega a 15,9 mil, segundo a Prefeitura, ou 22,7 mil, de acordo com entidade. Poucos conhecem suas histórias

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Por Raquel Brandão
2 min de leitura
A Prefeitura fala em quase 16 mil pessoas vivendo pelas calçadas e viadutos da capital. Mas na opinião de ativistas o número está subestimado e pode chegar a mais de 22 mil. Foto: Mouco Fya/ Estadão

Nem mesmo a ameaça de ter o corpo queimado faz com que Misael troque a vida na rua e a companhia do cão Faísca por um teto. “Para morar em casa, você tem de enfrentar ladrão”, diz o morador da Avenida 9 de Julho. A alguns quilômetros dali, o mineiro Paulo explica que privações fazem parte da vida no Vale do Anhangabaú. “Se Jesus sofreu, por que o ser humano não pode sofrer?”, pergunta ele, que foi para as ruas há 14 anos, após enfrentar problemas em uma ação trabalhista. 

Além de dificuldades financeiras, impasses familiares fazem com que muitos saiam de casa, como aconteceu com Thiago Felipe da Silva, que leva a vida nas ruas do Glicério. Aprendeu cedo o que era independência após a convivência com a mãe, viciada em crack, ficar insustentável. “Da relação com a família, eu cansei, tá ligado?” 

As histórias se repetem e os números as reforçam. Em quatro anos, essa população cresceu 9,8% e chegou a 15.905 moradores de rua, segundo pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), feita em parceria com a Prefeitura. Para o Movimento da População em Situação de Rua, os dados são irreais – seriam 22.790 pessoas nessa condição.

Para encontrá-las, o Estado percorreu ruas do centro da capital – onde vivem mais de 50% das pessoas em situação de rua – e ouviu, durante uma semana, histórias daqueles que adotaram as calçadas como moradia.

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