'Não se pode condenar de baciada', diz ex-comandante da Rota 

Ex-comandante vê responsabilidade do Judiciário e diz que condenação dos réus atingiria PMs inocentes

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

SÃO PAULO - Antonio Chiari é presidente do Clube de Oficiais da Polícia Militar e comandava em 2 de outubro de 1992 as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Ao todo, 57 homens foram denunciados em 1993 e acusados de matar 92 dos 111 presos, vítimas do massacre do Carandiru, durante a retomada do Pavilhão 9 da antiga Casa de Detenção de São Paulo. Chiari chegou no presídio depois que as mortes haviam acontecido.

Chiari comandava a Rota em 1992 Foto: MAURILO CLARETO/Estadão - 28-09-1992

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Coronel, o que significa para os policiais esse caso não ter sido julgado 25 anos do fato?

Esse é um problema da Justiça. Eu quero saber como vão fazer para individualizar responsabilidades. Você condenar por baciada não tem sentido. O que aconteceu na realidade. Se eu fizer isso vou cometer injustiça. Eu posso condenar assim pessoas que atiraram e mataram? Sim. Mas com certeza vou condenar também quem atirou e não matou ninguém. Como vou penalizar uma pessoa que não matou? Todos agiram no estrito cumprimento do dever legal, pois receberam ordem para entrar. O que eu posso dizer para você é que nós cumprimos todas as determinações no momento. Eu recolhi todo o armamento do meu pessoal que esteve envolvido e entreguei o armamento para o presidente do inquérito e foi colocado á disposição da Justiça para fazer perícia. Minha obrigação foi feita. Agora, se não foi feita a perícia para individualizar as atitudes eu não sou culpado disso nem meus policiais. Quem tem de ter atitude é o Poder Judiciário.

Mas o que significa para os policiais um processo que não acaba?

Sim, todo mundo fica preocupado, pois não sabe o resultado que pode ter. Como já veio um resultado maluco de 600 anos, né, e graças a Deus o tribunal anulou, ninguém sabe o que pode vir pela frente ainda. Agora, que eu tenho convicção que a culpa não é nossa desse processo não ter tido solução, eu tenho convicção disso. Agora, essa demora penaliza a pessoa, pois ela não sabe o que pode acontecer daqui a pouco. É uma tortura chinesa: bem suave e lenta.

É quase unânime que ocorreram excessos na retomadas do pavilhão...

Evidente que pode ter acontecido um monte de coisa errada lá dentro. Mas eu quero saber quem fez. E para saber quem fez, precisava fazer a perícia. O nó da questão é a perícia que não foi feita. E eu quero saber agora como é que o cara vai condenar alguém sem ter uma prova individualizando o comportamento das pessoas. Meu questionamento é só esse. Os desembargadores pediram um novo júri. Vamos ver o que vai acontecer. Aquele que foi feito não foi aprovado pelo Poder Judiciário.

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