'Não pode ser em vão', diz pai de aluna da Unicamp morta em Limeira

Preso preventivamente, principal suspeito pelo crime já foi condenado anteriormente por estupro e tentativa de homicídio

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Por Priscila Mengue
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SÃO PAULO - O metalúrgico Paulo Domingos Santos descreve a rotina de sua filha Sandy Andrade Santos, de 21 anos, como "tranquila", restrita aos poucos quarteirões em que residia, se exercitava e estudava na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (FCA), de Limeira. Ao Estado, ele relatou ter tido um choque ao receber a notícia de que o corpo da jovem havia sido encontrado na sexta-feira, 31, a cerca de 2,5 quilômetros da instituição de ensino, na qual cursava o segundo ano de Engenharia de Manufatura. "Ela só teria mais segurança se morasse dentro da universidade", disse.

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Morador de Embu-Guaçu, Santos comenta que sua esposa, Suelly, não queria que Sandy se mudasse para Limeira, a mais 180 quilômetros de distância. "Não tinha o que a gente fazer: ela precisava ir para lá. Era um sonho realizado depois de três anos de cursinho, que foi interrompido dessa forma trágica”, comenta ele. Paulo relata, inclusive, que já estar apreensivo com o futuro da filha caçula Natália, de 14 anos. "As duas estavam sempre juntas. Anossa família era muito unida, se via quase todos os fins de semana. Quando ela tiver idade para cursar uma faculdade, não vai conseguir ir sozinha para outra cidade, vai ser muito difícil para todos nós", afirma.

Na tarde desta terça-feira, 4, o metalúrgico esteve em Limeira para buscar móveis e objetos da filha e, também, para participar de um ato por mais segurança nas imediações da FCA. “Fiz questão de vir. Estou aqui para apoiar os estudantes e chamar a atenção das autoridades para que o aconteceu com a Sandy não se repita. Para que ela seja a última vítima, já que, infelizmente, não há como voltar atrás”, defende.

Crime ocorreu próximo àFaculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (FCA), de Limeira Foto: Cristiane Kampf/Assessoria de Imprensa Unicamp-Limeira

Prisão. Em coletiva de imprensa, a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Limeira divulgou que o suspeito do crime, preso preventivamente na terça-feira, 3, se chama Marcelo Soares de Moraes Silva, de 30 anos. O homem estava em liberdade condicional desde março de 2016, após cumprir pena desde 2011 por estupro e tentativa de homicídio, cometidos em Limeira. De acordo com o delegado William Marchi, após a identificação, a polícia recebeu novos relatos de abuso e tentativa de abuso cometidos pelo suspeito.

Uma das principais linhas de investigação é de que o caso foi uma tentativa de estupro, pois, embora a vítima não tenha sofrido violência sexual, nenhum de seus pertences foi roubado. Segundo a polícia, vestígios de sangue foram encontrados em roupas e no carro do suspeito, especialmente no porta-malas, no capô e no banco de motorista - o que pode indicar que o crime foi cometido apenas por uma pessoa. Além disso, em local apontado por ele, foi achada a bolsa de Sandy. 

Até o momento, a principal hipótese é de que o suspeito abordou a vítima com uma faca, colocou-a dentro do veículo e levou-a até as proximidades de um parque residencial. No local, a jovem teria reagido ao ataque, caindo no chão, momento em que tirou o tênis e utilizou uma meia para estancar um ferimento no pescoço, sendo novamente golpeada.

Ainda de acordo com Marchi, o suspeito apresentou diversas versões para o crime, algumas já descartadas, como a de que ele teria sido contratado apenas para dirigir o veículo. Todas foram, contudo, descritas “friamente”, como se tivesse “orgulho”. “Ele não demonstra nenhum arrependimento. Fala com maior naturalidade do que fez, de que deu a faca, que ela correu e deu mais facadas”, relata. 

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Além de Silva, outros suspeitos foram detidos para averiguação, mas foram logo dispensados após serem submetidos a exame de corpo de delito. A polícia trabalha, ainda, com uma hipótese de que Sandy teria sido confundida com outra garota de idade semelhante para um assassinato encomendado.

Ao Estado, o pai de Sandy, Paulo Domingos Santos relatou revolta pelas circunstâncias da morte da filha. “Eu vi que a polícia está fazendo um trabalho de excelência, com unhas de dentes, e isso é um conforto. Mas para que adianta o trabalho desses profissionais? Eles conseguem identificar quem cometeu o crime, mas ele é solto em poucos anos?”, contesta.

Em nota, a Prefeitura de Limeira anunciou que cederá um prédio próximo à Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp para a instalação da Quinta Companhia da Polícia Militar. Além disso, o patrulhamento de policiais militares e de guardas civis foi intensificado na região. “A medida contempla de imediato pedidos elaborados por estudantes, professores e dirigentes da instituição”, diz o texto.

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