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Na propaganda, bairro é ''Pinheiros da zona leste''

Por Cenário: Rodrigo Brancatelli
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A pesar de São Miguel ainda não ser alvo da especulação imobiliária, a Penha está se acostumando com o barulho das britadeiras. Segundo planilhas da Secretaria de Habitação, o bairro na zona leste é justamente o que mais teve novos empreendimentos imobiliários aprovados no ano passado - exatos 35. Em uma leitura mais atenta, os dados revelam os endereços para onde São Paulo vai crescer nos próximos anos - mais precisamente, para antigos bairros operários, em torno da orla ferroviária. Penha é um exemplo perfeito dessa tendência - antes tida como um "bairro dormitório", agora é tratado pelas imobiliárias como o "novo Tatuapé" ou "Pinheiros da zona leste". Se por um lado isso é extremamente benéfico para o desenvolvimento do bairro - uma vez que a valorização atrai também novas lojas, padarias, restaurantes e bares -, o crescimento vertiginoso e sem planejamento se transforma em um enorme problema estrutural. Para urbanistas, essa expansão ocorre em um momento de desregulação das políticas públicas e de falta de regras claras. Em outras palavras: os prédios chegam, novos moradores também, mas o bairro acaba ficando com a estrutura comprometida, uma vez que não há investimentos para melhorar ruas, em saneamento ou transporte público. A verticalização também é acompanhada de outro entrave - o aumento do preço dos terrenos da região. Terreno caro significa apartamento caro, pois o custo acaba repassado ao comprador. Com isso, as grandes áreas vazias correm o risco de serem ocupadas apenas por edifícios de classe média, com unidades que chegam até a R$ 600 mil. A população mais pobre, que pode investir apenas em apartamentos populares, tende a ser jogada cada vez mais para a periferia, replicando assim todos os problemas que há décadas travam o desenvolvimento de São Paulo.

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