Na Copa, 26% elevam consumo de água em SP

Balanço da Sabesp mostra queda de 38% na economia em 30 dias na Região Metropolitana

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Por Fabio Leite
Atualização:

SÃO PAULO - O legado da Copa do Mundo foi negativo para o já crítico sistema hídrico paulista. Balanço apresentado nesta segunda-feira, 28, pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) mostra que 26% dos clientes da Região Metropolitana, ou 5,2 milhões de pessoas, aumentaram o consumo de água nas leituras feitas entre 15 de junho e 15 de julho, período no qual ocorreu o campeonato. No levantamento fechado do mês passado, 21% haviam elevado o gasto.

Com a queda na adesão ao programa de bônus da Sabesp na Grande São Paulo, o volume de água economizado no período de 30 dias caiu 38,5% na comparação entre os dois balanços, de 3,9 mil litros para 2,4 mil litros por segundo. A diferença seria suficiente para abastecer 450 mil pessoas por um mês. Embora algumas leituras do período tenham medido o consumo realizado na segunda quinzena de maio, a companhia informou que esse é o balanço que melhor retrata o impacto da Copa no gasto com água.

Cantareira: volume útil chegou a zero há três semanas Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

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Na região atendida pelo Sistema Cantareira, que sofre a pior crise de estiagem da história, o saldo foi ainda pior. O número de clientes que aumentaram o consumo de água no período do Mundial subiu para 24%, ante os 14% do levantamento anterior. Na prática, o volume de água economizado caiu 29,6%, de 2,7 mil litros para 1,9 mil litros por segundo, índice que também é inferior ao registrado no mês de maio.

Os dados recentes indicam que cerca de 2,1 milhões de pessoas atendidas pelo Cantareira aumentaram o consumo de água no período da Copa. Uma das regiões abastecidas pelo principal manancial paulista é o bairro boêmio de Vila Madalena, zona oeste da capital paulista, que chegou a receber 70 mil torcedores que acompanharam as partidas nos bares e nas ruas. 

Logo após o fim do evento, os estabelecimentos começaram a sofrer com falta d’água à noite e chegaram a substituir copos de vidro pelos de plástico para servir os clientes, como revelou o Estado. Segundo a Sabesp, os problema são pontuais e em locais sem caixa d’água grande.

Foco. Para o diretor metropolitano da companhia, Paulo Massato, o aumento do consumo de água durante a Copa está relacionado a três fatores: “Primeiro, em uma pesquisa rápida que fizemos constatamos que não se falava nada além da Copa nesse período. A própria imprensa reduziu a abordagem da crise do Cantareira. Segundo, por causa dos jogos, muita gente não viajou nessas férias. As crianças ficaram em casa e, portanto, a economia foi menor. Além disso, tivemos altas temperaturas, atípicas para esse período, o que também faz aumentar o consumo de água”.

O crescimento significativo do consumo coincide com a desistência, por parte do governador Geraldo Alckmin (PSDB), de aplicar multa para quem elevar o gasto com água. A medida havia sido anunciada pelo governo em março, mas foi descartada no início deste mês, que também marcou o começo da campanha eleitoral. No período, a Sabesp também suspendeu as campanhas na mídia de estímulo à economia por causa da restrição imposta pela legislação eleitoral. Na semana passada, a publicidade foi liberada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

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Massato disse que a Sabesp teve de aumentar em 500 litros por segundo a produção de água retirada do Sistema Cantareira em junho para cobrir a alta do consumo pela população. “Mesmo assim, conseguimos a vazão dentro do que os órgãos reguladores determinaram”, disse. De acordo com o dirigente, contudo, monitoramento feito pela Sabesp mostra que o gasto com água já voltou a cair após a Copa, em parte, relacionado à queda da temperatura.

Reserva. Em Diadema, no ABC paulista, Alckmin disse nesta segunda-feira que a Sabesp não pretende utilizar a segunda cota do volume morto do Cantareira. Conforme o Estado revelou, a empresa pediu aos órgãos reguladores autorização para captar mais 116 bilhões de litros além dos 182 bilhões que já estão sendo retirados desde junho. “Não pretendemos até setembro usar nada além dessa reserva técnica. Mas a Sabesp corretamente está deixando preparada caso haja necessidade”, disse Alckmin. Ainda não houve decisão. / COLABOROU RAFAEL ITALIANI

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