Nº de acidentes em trecho onde ônibus caiu já supera 2015; DER fará vistoria

São 6 casos no ano na área de serra da Mogi-Bertioga, um a mais do que no ano passado; desastre com fretado universitário deixou 18 mortos. Três pessoas continuam internadas em estado grave. Órgão estadual alega ‘questões técnicas’ para ribanceira não ter proteção

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Foto do author Fabiana Cambricoli
Foto do author José Maria Tomazela
Por Fabio Leite , Fabiana Cambricoli e José Maria Tomazela
Atualização:

SÃO PAULO -O número de acidentes no trecho de serra da Rodovia Mogi-Bertioga (SP-98) neste ano já supera o total de 2015. Com a tragédia envolvendo a queda do ônibus que matou 18 pessoas na quarta-feira, já são seis ocorrências em 2016, uma a mais do que em todo o ano passado. Três pessoas continuam internadas em estado grave. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão do governo paulista responsável pela administração da via, anunciou “vistoria geral” na estrada.

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Desde 2014, já foram 20 acidentes no trajeto de 11 quilômetros em plena Serra do Mar, entre as cidades de Biritiba-Mirim, na Grande São Paulo, e Bertioga, no litoral norte, segundo o Departamento de Estradas de Rodagem.

Só no km 83,9 km da Mogi-Bertioga, onde o ônibus que transportava 45 estudantes universitários despencou de um barranco, são oito acidentes desde 2011, de acordo com o DER. Sujeito a neblina, o trecho é inclinado, com pista simples (uma em cada sentido), curvas e sem iluminação nem defensa metálica de proteção. 

“Sinalização e defensas são elementos importantes na segurança de estradas. A defensa, por exemplo, poderia minimizar a queda, dependendo da velocidade em que o ônibus estava”, afirma Silvio Medici, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito (Abeetrans).

Perícia só será concluída na próxima sema Foto: HÉLIO TORCHI/SIGMAPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

De acordo com o DER, as defensas metálicas não foram implementadas no trecho onde o ônibus tombou “por questões técnicas”, que incluem “as dificuldades com as rochas existentes no local”. O órgão afirma ser “solidário com as famílias das vítimas”, mas “repudia qualquer ilação antes da apuração das causas do acidente”. 

O departamento divulgou nesta sexta-feira, 10, que fará uma vistoria geral nos 50 quilômetros de extensão da estrada, para avaliar a necessidade de ações para o aumento de segurança de motoristas e usuários. “No entanto, a rodovia tem boa sinalização, tanto horizontal quanto vertical, limites de velocidade que proporcionam segurança aos usuários, quando respeitados, e 13 equipamentos de radares instalados ao longo do trecho”, informou em nota oficial. 

O local da tragédia fica dentro de Bertioga, que é a cidade paulista com a maior taxa de mortes no trânsito entre os 132 municípios do Estado com mais de 50 mil habitantes, segundo dados do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo (Infosiga SP). Foram 20 óbitos do tipo em 2015, o equivalente a 35,9 mortes por 100 mil habitantes.

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Além da Mogi-Bertioga, que recebe cerca de 16 mil veículos por dia, o município litorâneo é cortado pela Rio-Santos, que recebe mais de 20 mil veículos diariamente. Em todo o Estado, 6.066 pessoas perderam a vida no ano passado em acidentes em vias urbanas ou rodovias. Ainda de acordo com os dados estaduais, uma em cada quatro vítimas tinha entre 18 e 29 anos, faixa etária da maioria dos mortos no acidente de quarta-feira na Mogi-Bertioga.

Perícia. O delegado da Polícia Civil de Bertioga, Maurício Barbosa, que assumiu o inquérito do acidente, deve receber apenas na próxima semana o laudo do ônibus. Segundo ele, a perícia já foi solicitada ao órgão técnico da Polícia Civil, mas, em razão da complexidade do serviço, pode demorar alguns dias para o trabalho ficar pronto.

A perícia deve avaliar as condições do sistema de freios, suspensão, barra de direção, estado dos pneus e outros componentes do veículo indispensáveis à segurança dos passageiros, como a fixação dos bancos, a estrutura da carroceria e os cintos de segurança. Também vai apurar se houve ruptura ou defeito em algum componente.

O advogado da empresa União Litoral, Antonio Felisberto Martinho, disse que a companhia tem “todo interesse” no esclarecimento das causas do acidente. “Esse ônibus em especial tinha passado por manutenção corretiva e preventiva. A empresa nunca havia registrado um acidente com morte nem qualquer reclamação contra o motorista (morto no desastre), que era sério e competente.”

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Ônibus ia cair em abismo, diz testemunha

Gerente de uma loja de materiais de construção, Cezar Donizetti Vieira, de 54 anos, voltou nesta sexta-feira, 10, à Delegacia de Bertioga para fornecer informações sobre o acidente que deixou 18 mortos na rodovia que liga a cidade a Mogi das Cruzes. Abalado, Vieira relatou ter visto o momento exato em que o veículo tombou, após ter tocado no seu carro. “Vim aqui sem ser convocado para conversar com o delegado e tentar não falar mais.”

O homem havia deixado São Miguel Paulista, na zona leste da capital, com a mulher e a irmã. Ele disse ter encontrado dois fretados na estrada e, com a visibilidade prejudicada por causa da neblina, decidiu segui-los por ter notado a experiência dos condutores. Ao chegar ao trecho de serra, porém, a visibilidade melhorou e, por isso, decidiu fazer a ultrapassagem e seguir viagem.

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Próximo do km 84 da Rodovia Mogi-Bertioga, ele relatou ter notado a aproximação rápida de um dos ônibus do seu lado na pista. “Fiz a curva e via aqueles faróis grandes. Na outra curva, já era um paredão me empurrando”, disse.

Segundo ele, a mulher e a irmã começaram a gritar, assustadas com o contato. O ônibus atingiu a lateral de seu veículo, quebrando um dos retrovisores e arranhando a lataria, antes de tombar na pista e cair na vala. “Acho que meu carro escorou o ônibus e evitou que ele caísse no abismo, onde acho que todos morreriam.” Após o acidente, Vieira seguiu até uma base da Policia Rodoviária Estadual, onde avisou sobre o acidente.

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