Movimento de reúso da água ganha adeptos

Petição online para governos, com dicas de economia, já tem mais de 19 mil assinaturas

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Por Monica Reolom
Atualização:

"Esta situação de crise da água pode significar uma oportunidade histórica para o Estado de São Paulo liderar um movimento nunca antes visto neste País, de transição para um manejo sustentável e responsável da água". A proposta está em uma petição online assinada por "cidadãos paulistanos" direcionada ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e ao prefeito Fernando Haddad (PT) - já com mais de 19 mil assinaturas. A cada adesão, os governantes recebem um e-mail que contém soluções colaborativas para reúso e economia de água. Pequenas atitudes descentralizadas, simples e baratas são a solução para a crise, segundo os idealizadores do documento. "Nós ainda teremos vários anos de crise. Mesmo que chova, vamos viver uma situação de escassez e penúria por muito tempo. A petição indica parâmetros do que a gente acredita serem caminhos para vencê-la", explica Claudia Visoni, de 48 anos, jornalista e ambientalista.

Lucas Ciola desenvolveu sistema de tratamento composto por cinco etapas em sua casa, no Butantã Foto: Helvio Romero/Estadão

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Ela faz parte de um grupo de pessoas que trabalha com a permacultura: método que desenvolve sistemas em escala humana (jardins, vilas, bairros) ambientalmente sustentáveis e financeiramente viáveis. "Precisamos mostrar que decisões descentralizadas são muito baratas e eficientes e podem ser feitas hoje, agora. Não podemos nos dar ao luxo de depender da transposição de um rio prevista para daqui a dez anos. Vamos ter de começar a resolver pelas bordas: cada condomínio, cada empresa, cada prédio", afirma.

Pela cidade de São Paulo, há exemplos de permacultura que podem ser facilmente reproduzidos. E a criatividade pode vir também de situações complicadas. Caso do técnico agropecuário e hoje empreendedor social Edison Urbano, de 55 anos. "Perdi meu emprego há 11 anos, o que me fez estudar formas de não gastar dinheiro. Comecei a plantar hortaliças para economizar na feira, desenvolvi um aquecedor de água solar e pensei numa maneira de aproveitar a água da chuva. Foi como nasceu uma minicisterna", diz.

Urbano instalou no quintal de casa - que seria puro concreto, não fossem os vasos de garrafas pet cheios de plantas nas paredes - um galão de 200 litros conectado à calha que recebe água toda vez que chove. Dali, ele tira água para molhar as hortaliças na parede. "O meu foco sempre foi sociedade de baixa renda. O custo de uma cisterna urbana é de geralmente R$ 200.

Ele ensina em seu site, o Sempre Sustentável, a replicar o sistema em um guia passo a passo. A economia de 40% na conta de água também é fruto de um sistema que reutiliza a água usada no banho na descarga do banheiro. "Achavam um absurdo quando eu comecei a fazer isso porque a água fica turva. Mas é para dar descarga!"

O mesmo sistema é usado na loja Farm da Rua Harmonia, na Vila Madalena, zona oeste. Desenvolvida pelo engenheiro e designer ecológico Guilherme Castagna, de 40 anos, a obra usa água da chuva e de nascentes locais nos sistemas não potáveis - descarga, limpeza do chão e irrigação das plantas. Com plantas nas paredes, o prédio ainda tem teto verde, que diminui a sensação de calor. "A ideia desse projeto e da permacultura é incorporar ciclos da natureza nos sistemas de construção. Precisamos entender e aplicar os princípios da natureza nas obras", diz Castagna.

Mutirão.

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Ele, Claudia e Urbano estão organizando o movimento "Cisterna Já", para estimular as pessoas a instalar o sistema em casas, escolas e lojas. No dia 1.º, vai haver um mutirão de capacitação. "Um cenário possível em São Paulo é o de inundação e desabastecimento ao mesmo tempo, se a cidade alagar com as chuvas, mas os reservatórios não receberem precipitação suficiente", diz Claudia.

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