PUBLICIDADE

Motorista do assassino de Glauco é indiciado

Amigo de Nunes, que matou cartunista, é acusado de ter sido partícipe do crime; segundo delegado, ele facilitou entrada do criminoso na casa

Por Josmar Jozino Josmar Jozino
Atualização:

O estudante Felipe de Oliveira Iasi, de 23 anos, foi indiciado ontem como partícipe do assassinato do cartunista Glauco Vilas Boas, de 53, e de seu filho Raoni, de 25. Segundo a Polícia Civil, no último dia 12, o rapaz contribuiu para que o amigo Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, de 24 anos, matasse as vítimas a tiros. O crime aconteceu em Osasco, Grande São Paulo.Iasi deve responder ao processo em liberdade. O indiciamento como partícipe não é igual à coautoria, em que a pessoa ajuda o assassino a matar a vítima. O estudante foi ouvido ontem durante duas horas pelo delegado Archimedes Cassão Veras Júnior, do Setor de Investigações Gerais (SIG) de Osasco. Ao deixar o prédio da Delegacia Seccional, às 16h45, acompanhado da mãe, Eneida, e do padrasto, Antonio Lima, o rapaz não quis falar com jornalistas, mas fez um breve desabafo. "Estou revoltado. Sou inocente", disse. Em seguida, entrou no carro de seu advogado, Cássio Paoletti.De acordo com Veras Júnior, a contribuição de Iasi no crime foi ter pulado o muro e aberto o portão da chácara onde o cartunista vivia com a família, facilitando assim a entrada de Nunes. "Ele poderia ter alertado as vítimas. Estava o tempo todo com o telefone celular e também poderia, se quisesse, ter avisado a polícia", argumentou o delegado.Em seu primeiro depoimento, prestado dia 14, Iasi alegou ter sido sequestrado por Nunes e obrigado a levá-lo, em seu Gol cinza, à casa de Glauco. Veras Júnior afirma que apurou, no entanto, que durante o trajeto o carro de Iasi cruzou com um veículo da PM e que nada fez para comunicar o fato. Iasi disse ainda ter fugido da chácara antes de Nunes matar as vítimas, em um momento de distração do acusado.Ajuda. A Polícia Civil, porém, diz ter apurado que Nunes não fugiu a pé. Iasi é suspeito de ajudá-lo a escapar. O Gol do estudante foi apreendido para ser periciado. Integrantes do Instituto de Criminalística (IC) procuravam, ontem, no carro, vestígios de pólvora ou de sangue.Veras Júnior também aguarda a análise do GPS do Gol para saber o horário e qual itinerário Iasi fez no retorno de Osasco. O rapaz afirmou que, depois de fugir, foi para casa, dormiu às 6h, acordou às 10h, ligou o computador, acessou a internet, soube dos crimes e avisou sua mãe. Ambos tiveram o sigilo telefônico quebrado pela Justiça. O mesmo foi feito com Nunes. O padrasto de Iasi disse ontem na delegacia que seu enteado é vítima de Cadu. "Ele é inocente e disse a verdade em seus depoimentos", argumentou Antonio Lima. Paoletti afirmou que vai recorrer contra o indiciamento com pedido de habeas corpus à Justiça. O advogado chamou o delegado Veras Júnior de arbitrário: "Ele não me deixou tirar cópia dos autos. No inquérito não há laudos técnicos nem provas contra meu cliente", completou Paoletti. Foz do Iguaçu. Ontem, o irmão e o pai de Nunes o visitaram na Polícia Federal de Foz do Iguaçu (PR), onde ele está preso desde o dia 14. De acordo com a PF, a visita teve início às 9 horas e terminou 15 minutos depois. Nesse tempo, o pai e o irmão do preso entregaram produtos de higiene e conversaram com o jovem.Ainda não há informações sobre uma eventual transferência do preso para São Paulo, pois ele responde no Paraná por tentativa de homicídio - ao fugir, ele feriu um policial durante uma troca de tiros. O episódio aconteceu quando o estudante foi abordado por policiais rodoviários em Foz do Iguaçu. Na ocasião, ele tentava fugir para o Paraguai. O policial passa bem.Nunes é conhecido da família das vítimas e frequentava a Igreja Céu de Maria, adepta dos princípios do Santo Daime, fundada por Glauco. Ele afirmou à polícia que no dia do crime pretendia levar o cartunista até sua mãe, para que ele confirmasse que o irmão é a reencarnação de Jesus Cristo.PARA ENTENDERJuiz decide pena de partícipePartícipeÉ o indivíduo que colabora para a execução de um crime. No caso de Iasi, a polícia o considera partícipe porque ele abriu o portão da chácara do cartunista para a entrada do criminosoCoautoriaEle não deve ser confundido com coautor de homicídio, ou seja, aquele que ajuda alguém a matar alguma vítimaPenaÉ mais branda do que para o autor do homicídio. O juiz é quem decide a pena, levando em consideração se o acusado é primário, tem emprego e residência fixa. O partícipe de homicídio é enquadrado no artigo 121 combinado com o artigo 29 do Código Penal.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.