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Moradores relatam ataques de gangue a pé no Minhocão

Modelo conta que foi abordada por 6 pessoas no sábado; Secretaria de Segurança afirma não ter registro dos casos

Foto do author Marco Antônio Carvalho
Por Julia Marques e Marco Antônio Carvalho
Atualização:
Sem carro. Desde maio, as interdições começam mais cedo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Casos recentes de roubos no Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, no centro de São Paulo, assustam frequentadores. Moradores da região relatam a atuação de um grupo a pé que faz roubos à noite, sobre o viaduto, quando já está fechado para veículos. Dados obtidos pelo Estado, por meio da Lei de Acesso à Informação, apontam aumento do número de crimes no elevado de 2015 até 2017. 

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Em fevereiro deste ano, o então prefeito João Doria (PSDB) sancionou uma lei que criou o Parque Municipal do Minhocão e, em março deste ano, o Minhocão, que já era fechado para carros aos domingos, passou a ser interditado também aos sábados. Desde maio, as interdições à noite começam mais cedo, às 20 horas – antes, eram às 21h30. 

No sábado, a modelo Paola di Mônica, de 28 anos, diz ter sido atacada por seis pessoas – duas mulheres – no viaduto. A abordagem, de acordo com ela, ocorreu por volta das 20 horas, quando Paola corria no elevado com fones de ouvido, no sentido da Praça Roosevelt. “Eles me fecharam e pediram o celular. Fiquei sem reação e começaram a me agredir.” 

Paola levou um soco no rosto Foto: Paola di Mônica

Segundo conta, ela levou um soco no rosto e teve os cabelos puxados. Paola caiu no chão. “Enfiaram a mão na minha roupa e pegaram meu celular”, afirmou ela, que disse ter ido somente na tarde desta terça-feira registrar o boletim de ocorrência.

Uma moradora de um prédio na via ouviu os gritos de Paola e foi até a janela de seu apartamento. Segundo a moradora, que preferiu não se identificar, o grupo saiu “andando rápido, mas não correndo”, depois de roubar a modelo. Do 15.º andar, essa testemunha diz que é comum ouvir gritos de “pega ladrão” à noite. 

A produtora de moda Daniela Mafalda, de 36 anos, relata desespero no dia 17, uma terça-feira. Era por volta de 20h30 quando caminhava no elevado e ouviu o pedido de socorro de um homem que andava sozinho. “Umas dez pessoas foram para cima. Agrediram o rapaz.” 

No momento da abordagem, houve confusão. “Um frequentador gritou ‘é arrastão’ e todo mundo começou a gritar também”, diz. O grupo se dispersou e fugiu. “Sabem que você não tem para onde correr. Se sentiram à vontade.” Em grupos nas redes sociais, há outros relatos de crimes do gênero no local. 

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Gestora ambiental e membro do conselho gestor do Parque Minhocão, Annabella Andrade diz que assaltos por pessoas em bicicletas já eram comuns, mas que, há cerca de três meses, percebe a atuação de grupos a pé. Annabella destaca a importância de registrar os crimes. “Se não vai para o Infocrim (base de dados sobre violência), o Minhocão aparece como um paraíso.”

Números. Dados obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que o número de crimes registrados no elevado cresce ano a ano. Enquanto em 2015 haviam sido registrados 18 crimes no local, em 2016 passou para 76, subindo para 90 ao longo do ano passado. Furto foi o crime mais frequente em 2017, com 45 registros, seguido de roubos, com 36 casos. “O Minhocão está perto de áreas vulneráveis”, diz Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). 

Sobre as ocorrências recentes, a Secretaria da Segurança Pública informou que não há registros e destacou ações. “Ao longo da via, policiais a pé e de bicicleta realizam o policiamento ostensivo e preventivo, principalmente nos dias em que a via é aberta aos pedestres e ciclistas.” A Secretaria Municipal da Segurança Urbana disse que o policiamento no elevado não é atribuição da Prefeitura e mantém viatura da Guarda Civil Metropolitana (GCM) no local. 

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