Morador descobre ‘governo no celular’

De remédio no posto de saúde a consulta de multa e Zona Azul, 48 aplicativos do Estado e da Prefeitura somam 12 mi de downloads

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Por Bruno RibeiroPaula Felix
Atualização:

Mais do que uma fonte inesgotável de entretenimento, os smartphones viraram poderosas ferramentas para resolver problemas da vida cotidiana. Prefeitura de São Paulo e governo do Estado têm, juntos, 48 aplicativos voltados para a prestação de serviços públicos – e alguns, como a recém-criada Zona Azul digital, já são um sucesso.

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As mil utilidades dos aplicativos vão desde a possibilidade de fazer agendamentos online até a facilidade para consultar a situação de automóveis, imóveis, recolher impostos e localizar remédios nas redes de Saúde. Em três anos, esses aplicativos já somam 12 milhões de downloads.

Os heavy users são aqueles que têm de lidar muito com o poder público. Gente como a contadora Amanda Gonçalves, de 37 anos. “Trabalho com abertura e fechamento de empresas”, explica ela. Por isso, tem de ir frequentemente à Praça de Atendimento da Secretaria Municipal de Finanças.

O aplicativo “Agendamento Eletrônico” não a faz economizar a viagem: os serviços que Amada procura na praça, que fica no centro da cidade, ainda só podem ser feitos pessoalmente. “Mas o que faço é agendar pelo aplicativo. E ajuda muito. Antes, eu saía de um cliente, tinha de voltar até o escritório para agendar os atendimentos e só então ir em outro. Agora, você sai do cliente e já agenda o atendimento. Resolve muita coisa da rua. Acho que é essa a vantagem de fazer as coisas pelo celular. Você faz em qualquer lugar”, diz a contadora.

Marselha usa o 'Aqui tem Remédio' para encontrar medicamento para seu avô Foto: Alex SIlva/Estadão

Já no caso da secretária Marselha Medeiros, de 27 anos, a busca pelos apps públicos é uma questão médica: ela consulta o “Aqui tem Remédio”, também da Prefeitura, que fornece o estoque de medicamentos em cada unidade de saúde da capital. A pesquisa é para seu avô de 94 anos. “Faz uns quatro meses que estou usando. Meu avô ficou doente e sempre ia buscar o remédio na rede pública. Sempre que passam um remédio novo, pesquiso para ver se tem.”

Ela diz que a ferramenta ajuda a evitar deslocamentos inúteis para unidades de saúde. “Quando a gente digita as três primeiras letras do nome do remédio, já aparece e diz se tem ou não. Ele sempre acerta e me ajudou a não perder viagem.”

Resultados. Supervisor técnico de saúde da Prefeitura, Danilo Pitarello Rodrigues diz que o aplicativo, lançado em dezembro, teve 53 mil downloads e já tem impacto na distribuição de medicamentos na capital. “Em todo o ano passado, foram 6,2 milhões de pacientes atendidos nas 566 farmácias. Só no primeiro semestre deste ano, foram 4,8 milhões de pessoas. Uma das causas é o aplicativo: a pessoa tem a ideia de que o medicamento pode estar em falta em uma unidade, mas outras unidades podem ter.”

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Os serviços de saúde também oferecem um aplicativo com endereços de distribuição de preservativos e dicas para evitar doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Teve 4,5 mil downloads em um ano.

“Baixei pela facilidade e sempre falo para os meus amigos, já postei em grupos do WhatsApp para meus amigos baixarem. A gente é multiplicador de informação”, diz um dos usuários, o educador Welton Gabriel Lima dos Santos, de 26 anos.

Todos os usuários de apps com quem o Estado conversou também dizem usar aplicativos de recarga do bilhete único – são cinco modelos, com 5 milhões de downloads.

Welton Santos busca notícias sobre doenças Foto: Alex Silva/Estadão

Custos. Para desenvolver e manter os 38 aplicativos de serviços do governo do Estado, a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) gasta cerca de R$ 100 mil por mês. De acordo com Gustavo Guedes Alberto, gerente de produtos de projetos da empresa, a diretriz dos aplicativos, diferentemente do que os órgãos públicos fazem com os sites governamentais, é oferecer só o serviço. “O número de pessoas com celulares é crescente, todos sabemos. Mesmo a população de renda mais baixa tem acesso a esses aparelhos. Então, buscamos trazer justamente os serviços, as ações de maior demanda, e deixar para os sites os demais conteúdos, como notícias e informações mais amplas”, diz. “Então, buscamos oferecer aqueles serviços mais urgentes: situação das linhas de metrô, condições das estradas, consulta de pontos na habilitação, marcação de horário nos atendimentos do Poupatempo.”

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O primeiro aplicativo estadual saiu em agosto de 2013. É o simulado da prova teórica do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). “Do ponto de vista do cidadão, ele representou economia até financeira. O aluno pôde treinar mais antes da prova, evitando a reprovação”, diz Alberto. O aplicativo já teve mais de 1,4 milhão de downloads.

No caso da Prefeitura, os custos são compartilhados: há apps desenvolvidos pelo poder público e outros feitos por empresas privadas, a partir de informações compartilhadas gratuitamente com os desenvolvedores, como o caso dos programas que mostram o itinerário e a localização dos ônibus – e permitem programar a saída de casa, da escola ou da festa de forma a não ficar parado no ponto esperando o transporte.

Sucesso. O caso da Zona Azul digital é um dos fenômenos da Prefeitura. Em três semanas de funcionamento, as quatro empresas que oferecem os cartões eletrônicos já respondem por 10% do consumo de bilhetes. Só na semana passada, foram vendidos 114,2 mil “cartões”. E ativados 56 mil deles.

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“Os aplicativos estão mudando o jeito de pensar a cidade. Há dois anos, apresentei uma proposta ao prefeito para instalar parquímetros. Nem pensei nos aplicativos da Zona Azul, que são um sucesso. Estava sugerindo algo como uma máquina de escrever elétrica, quando a gente está na internet”, diz o secretário de Transportes, Jilmar Tatto.

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