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Ministério do Trabalho vai investigar incêndio no Brás

Objetivo é apurar se foi um acidente de trabalho e se havia trabalho escravo; ao menos uma oficina de costura operada por bolivianos funcionava no local

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

SÃO PAULO - O Ministério do Trabalho investigará se o incêndio na manhã desta quarta-feira, 23, em um imóvel no Brás, na região central da capital paulista, foi acidente de trabalho, se há eventuais responsáveis pelo ocorrido e se havia trabalho escravo no local. Informações preliminares apontam que o prédio abrigava ao menos uma oficina de costura operada por bolivianos, que também dormiam no mesmo prédio.

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O auditor-fiscal Renato Bignami, da Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo, disse que será instaurada uma investigação. "Havia de 20 a 30 pessoas que trabalhavam no local", disse ao Estado.

Ao menos quatro pessoas morreram em consequência do incêndio. Havia pelo menos 30 pessoas no imóvel, que tem risco de desabamento. Até as 13 horas, nove pessoas haviam sido socorridas.

Moradores ficaram desesperados, pois não havia água e o prédio tinha muitos botijões de gás que poderiam explodir a qualquer momento Foto: Werther Santana/Estadão

Correria e desespero. O costureiro boliviano Eilogio Callizaya, de 48 anos, correu o máximo que pode para se proteger do incêndio que atingiu a casa em que estava morando temporariamente enquanto se recuperava de um acidente de trabalho - um ombro quebrado. Eram por volta de 5 horas quando ele acordou com os gritos do amigo, que dividia o quarto com ele, e dos cerca de 30 outros moradores do cortiço.

Na pressa, ficou tudo para trás: roupas, documentos e até uma máquina de costura que ele tinha acabado de comprar por cerca de R$ 2 mil para não precisar depender dos patrões para ganhar dinheiro. Está no Brasil há 10 anos atuando nas oficinas de costura. "Saí com a roupa que estava vestindo e essa mochila", disse. 

Ele conta que os moradores ficaram desesperados, pois não havia água e o prédio tinha muitos botijões de gás que poderiam explodir a qualquer momento.

Por volta das 13 horas, o costureiro ainda aguardava o trabalho do Corpo dos Bombeiros para tentar reaver algum dos objetos perdidos. "Nem sei para onde vou ainda", afirmou. 

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Ricardo de Melo, de 39 anos, trabalhava como cortador de tecidos e disse que planejava levar até a mãe para morar com ele no prédio. "Ainda bem que não trouxe, olha o que aconteceu", disse.

Melo contou que acordou com gritos de "fogo, fogo" e deixou todos os pertences para trás. Morava havia um ano no prédio. "Saiu todo mundo assustado, correndo, não deu tempo de pegar nem a carteira."

Agentes da Prefeitura e do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) estavam no local para cadastrar os moradores em abrigos da cidade.

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