Medo faz vizinhos e comerciantes mudarem a rotina

Segundo eles, não são raros os furtos e abordagens cometidos por dependentes; PM e comunidade discutem soluções para o problema

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Por Redação
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Relatos de pequenos furtos e abordagens incisivas aos pedestres são comuns entre moradores e comerciantes da área próxima ao Viaduto Okahara Okei. E muitos reclamam que já tiveram de mudar seus hábitos. Por causa do número de queixas, a Polícia Militar fez reunião anteontem com a comunidade para discutir ações e tentar achar soluções. Outro encontro foi marcado para a semana que vem.O motorista Ismael Paulo Araújo, de 25 anos, conta que é frequente ouvir casos de furtos de pedestres e de carros estacionados na rua. "Outro dia, um noia me mostrou até a arma que estava carregando. A Guarda (Civil Metropolitana) vem, espalha todos eles, mas depois eles voltam. Muita gente desce do ônibus na Angélica e vai andando até a Paulista. Os pedestres se assustam, mas eu já estou acostumado."A advogada Aldarice Maia, de 61 anos, mudou sua rotina por medo dos usuários. Antes de entrar em casa, ela diz que passa várias vezes com o carro para ter certeza de que não há perigo na entrada. Quando vai à padaria, leva o "dinheiro contado" para o pão. "Descobri hoje (ontem) que os moradores do prédio decidiram colocar uma grade a mais aqui na frente para tentar afastar os usuários." O edifício de Aldarice tem a entrada recuada e alguns usuários de drogas utilizam sua marquise para dormir à noite.Segundo o capitão Gerônimo Antônio, do 7.º Batalhão da Polícia Militar, que coordena as reuniões com moradores, comerciantes e associações, a ação no local depende da comunidade. "Estamos tentando detectar porque eles (os dependentes) estão ficando nessa região, coisa que não acontecia antes. Temos de minimizar o impacto dos elementos que estão propiciando a cracolândia." Entre esses elementos, o capitão cita a alimentação dada por vizinhos e o consumo de droga. O oficial diz ainda que a PM já entrou em contato com a Prefeitura para construir uma edificação que dificulte o acesso dos usuários à parte inferior do viaduto. A Secretaria de Coordenação de Subprefeituras afirma, no entanto, que não há obras previstas para o local.Saúde pública. Para moradores, tratar o caso só como questão de polícia não é a solução mais adequada. "O que está em pauta é muito mais uma questão de saúde pública. A cidade inteira está infestada de usuários e o poder público não pode simplesmente despejar as pessoas de um lugar para outro", diz a diretora da Associação Paulista Viva, Marli Lemos. O antropólogo Paulo Malvasi, autor de uma tese sobre o mercado de drogas na cidade, diz que quando os usuários de droga estão espalhados fica mais difícil concentrar as ações, seja de cuidado, seja de segurança pública. "Dessa forma, expõe-se as pessoas e se coloca o usuário frente ao ato de violência", diz. "Tem de se ter a compreensão de que um ato repressivo não muda estratégias de ocupação do espaço urbano." A Prefeitura diz que equipes das Secretarias Municipais de Assistência Social e Saúde vem realizando um trabalho de "aproximação e convencimento no local". "A atuação dos agentes é diária na região da Nova Luz e onde se fizer necessária", afirma, em nota. Ainda de acordo com a administração, equipes do Programa Saúde nas Ruas e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) atuam em todos os locais em que é identificado o consumo de crack. / JULIANA DEODORO

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