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Maré: 2 mortos não tinham passagem

Garçom de 35 anos e engraxate de 16 estão entre as dez vítimas baleadas durante operação da polícia no complexo, no Rio, anteontem

Por MARCELO GOMES e RIO
Atualização:

Dois dos nove civis mortos na operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Complexo da Maré, na zona norte do Rio, anteontem, não tinham antecedentes criminais: o garçom Eraldo dos Santos da Silva, de 35 anos, e o engraxate Jonatha Farias da Silva, de 16. O sargento do Bope Ednelson Jerônimo dos Santos Silva, de 42 anos, também morreu na ação, com um tiro na cabeça, supostamente disparado por traficantes.As outras sete vítimas tinham passagens, segundo a Polícia Civil. André Gomes de Souza Júnior, de 18 anos, tinha registro por furto. Fabrício Souza Gomes, de 28, tinha três passagens por homicídio, além de tráfico, porte de arma e lesão corporal. Contra ele havia mandado de prisão temporária. Carlos Eduardo Silva Pinto, de 23, tinha anotações por tentativa de homicídio, roubo de veículo e lesão corporal. Ele também aparece como vítima de uma tentativa de homicídio em 2012. José Everton Silva de Oliveira, de 21 anos, tinha passagens por porte ilegal de arma e roubo seguido de morte, quando era menor. Ademir da Silva Lima, de 29 anos, tinha uma anotação criminal por tráfico de drogas e associação ao tráfico, também quando era menor. Como maior de idade, tinha passagens por homicídio, roubo e furto. Renato Alexandre Mello da Silva, de 39 anos, tinha sete passagens por roubo, uma por tráfico, uma por furto e uma por porte de droga. Já havia cumprido pena no sistema carcerário.Roberto Alves Rodrigues tinha três passagens por furtos e outra por roubo.Facadas. Representantes de dez associações de moradores e de ONGs da Maré se reuniram ontem com o coronel Hugo Freire, chefe do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar - a quem o Bope é subordinado. O encontro foi marcado após a comunidade acusar PMs de terem executado a facadas pelo menos três pessoas dentro de suas casas, para vingar a morte do sargento da tropa de elite.Equipes da Corregedoria Interna da PM também participaram da reunião e receberam denúncias detalhadas de moradores. Um inquérito policial militar (IPM) foi instaurado para averiguar a conduta dos policiais. "Tentávamos marcar essa reunião com a polícia desde 2007, e a repercussão do episódio de segunda e terça-feira ajudou. A polícia decidiu abrir um canal com a comunidade, para discutirmos juntos uma agenda propositiva para a segurança na Maré. Atualmente, há grande desconfiança entre policiais e moradores. O objetivo é mudar esse quadro", explicou Eliana Sousa e Silva, diretora da ONG Redes da Maré.O delegado Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios (DH), informou ontem que alguns PMs que participaram da operação na Maré já foram ouvidos. Ele aguarda o resultado dos laudos da perícia do local.Segundo o delegado, peritos legistas apontaram que nove corpos tinham marcas de tiros e não apresentavam ferimentos por facas. A Polícia Civil não comentou se o décimo corpo tinha ferimentos de facadas. As armas utilizadas pelos PMs foram apreendidas para exames de confronto balístico. O objetivo é descobrir se os tiros que atingiram as vítimas do confronto foram disparados pelos policiais ou por traficantes de drogas. Denúncias. O secretário de Segurança do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, cobrou nessa quarta-feira a apuração de denúncias de excessos cometidos pelo Bope, e também do autor do assassinato do sargento da tropa de elite. "Essas coisas têm que ser apuradas. A especulação não faz bem a ninguém. Mas, assim como tem que apurar se houve excesso, tem que apurar quem matou o sargento. O excesso não é a lógica da polícia", disse, em entrevista à Rádio CBN.

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Três dos cinco baleados no confronto permaneciam internados em observação no Hospital Federal de Bonsucesso, nessa quarta-feira: Robson Maceió Guimarães, de 40 anos, foi ferido na barriga; Wagner de Lima Marinho, de 23, na virilha; e Alessandro de Oliveira, de 33, no ombro.

A Polícia Militar divulgou nas redes sociais imagens feitas a partir do helicóptero da corporação de homens armados circulando na Favela Nova Holanda no dia do confronto.

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