O Morro da Providência, no centro do Rio, aparece na imprensa já no início do século passado como um lugar "infestado de vagabundos e criminosos". No entanto, o episódio violento que marcou a história recente da mais antiga favela da cidade foi protagonizado por agentes do Estado. Em junho de 2008, os amigos David, Wellington e Marcos Paulo foram sequestrados por militares do Exército que patrulhavam a Providência para garantir a reforma de casas pelo projeto Cimento Social, do senador Marcelo Crivella (PRB). Levados pelos soldados para o Morro da Mineira, comandado por uma facção criminosa rival, os jovens foram mortos por traficantes. O fotógrafo Maurício Hora, de 42 anos, é um dos 5 mil moradores da Providência. Wellington era primo dele. Maurício, que já teve o pai preso por tráfico quando era criança, diz que os tiroteios cessaram desde a instalação, em abril, de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no morro. Mas avalia que ainda é cedo para acreditar em uma mudança efetiva e permanente. Segundo ele, a desconfiança se deve ao histórico de atuação policial com execuções sumárias de moradores suspeitos de envolvimento com o tráfico. O livro Um Século de Favela (FGV) transcreve carta de 1900 dirigida ao chefe de polícia do Rio sobre a Providência, na qual um delegado diz que "é ali impossível ser feito o policiamento porquanto nesse local, foco de desertores, ladrões e praças do Exército, não há ruas, os casebres são feitos de madeira e cobertos de zinco e não existe, em todo o morro, um só bico de gás, de modo que, para a completa extinção dos malfeitores apontados, torna-se necessário um grande cerco" com, pelo menos, "80 praças completamente armados". A carta é uma resposta ao chefe de polícia, que havia determinado verificação de denúncia do Jornal do Brasil, pela qual o morro estaria "infestado de vagabundos e criminosos que são o sobressalto das famílias no local". Atualmente, há 200 ex-recrutas na Providência.