Livro conta a história de vendedores do Parque do Ibirapuera, em SP

Vida dos 106 ambulantes do parque é tema de publicação que será lançada no dia 4

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Por Juliana Deodoro
Atualização:

No parque mais famoso de São Paulo, que chega a receber mais de 2 milhões de visitantes nos meses de verão, um batalhão de vendedores autônomos garante hidratação, alimentação e colabora para a segurança dos visitantes. São pessoas cujas histórias se confundem com a do próprio Parque do Ibirapuera, na zona sul da cidade. Agora, 106 delas vão ter suas vidas contadas em um livro que será lançado no dia 4 no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo.O passo a passo de uma história de sucesso, da jornalista Mônica Dallari, retrata, ao longo de suas 142 páginas, detalhes da trajetória dessas pessoas - vestidas em sua maioria com uniforme verde escuro -, que são anônimas para a maioria dos visitantes do parque, mas acabam se tornando amigos e confidentes dos clientes mais fiéis. A obra também conta como nasceu a Cooperativa dos Vendedores Autônomos do Parque do Ibirapuera (Coopvapi), entidade ao qual 115 dos 160 trabalhadores ambulantes do parque são atrelados.Segundo a jornalista Mônica Dallari, 70% dos vendedores ambulantes do Ibirapuera vieram do Nordeste e cerca de 30% deles nunca tiveram a oportunidade de se sentar em um banco escolar. Ela chama de "filhos do parque" a geração de filhos de vendedores que também se tornaram vendedores, como Joelma Lucena Brasil, de 43 anos, 33 deles no Ibirapuera. Ela começou a ajudar o pai quando a irmã mais nova nasceu e nunca mais parou de trabalhar. Os três filhos de Joelma também cresceram no parque e ela espera que a neta, a 4.ª geração de "filhos do parque", também possa correr entre as árvores da Praça do Porquinho, seu ponto fixo. "Eu prefiro estar com meus filhos no parque do que presos dentro de casa. A gente fica aqui de trás, vendo as pessoas passarem e construímos nossa vida, nossas famílias."Trajetória. Como Joelma, vários outros trabalhadores ambulantes também criaram filhos, netos e juntaram recursos para construir suas casas no Ibirapuera. Ou, como resume Amanda Batista Suzart, de 69 anos, lá "conseguiram uma vida melhor". Amanda, por exemplo, saiu da cidade baiana de Castro Alves em 1961, em busca de trabalho e de estudo. Seu sonho era fazer faculdade. "Podia ser qualquer uma, menos Enfermagem, já que não tenho muito jeito para lidar com doentes." Na capital paulista, ela trabalhou como babá para famílias americanas e francesas e, há 25 anos, é vendedora no parque. Até 2001, ia só aos fins de semana para complementar a renda. Desde que o último patrão retornou à França, porém, vender água de coco virou sua única fonte de renda - cada coco sai por R$ 5 (em um domingo de verão, vendem-se cerca de 200 cocos). "No dia em que não venho, fico angustiada, sou feliz no que faço", conta. Ela diz ser sua "maior realização" a própria filha, formada em Pedagogia e funcionária concursada da Prefeitura. "Tudo que eu queria na vida era estudar. Para ela, deu certo", conta, emocionada.Trilíngue. Carlos dos Santos, de 54 anos, foi metalúrgico, ajudante, auxiliar, faxineiro e trabalhou com telefonia antes de começar a vender biscoito, pipoca e pururuca no Ibirapuera em 1990. "Não sabia nem onde era o parque, mas, depois de tantos empregos, foi aqui onde me dei melhor." Lá Carlos também conheceu a mulher, Maria Auxiliadora de Sales Santos, a Dora, de 52 anos, que na época vendia batata frita. "Eu o conquistei pelo estômago", conta, rindo. A relação tem o mesmo tempo que os dois têm de parque - oito anos de namoro e 13 de casamento. Já no nível "advanced" do curso de inglês, Carlos fala espanhol e arranha francês. "Vendo 'mineral water' (água mineral) e o cliente pode escolher se quer 'still' (sem gás) ou 'sparkling' (com gás). Ofereço até o 'straw' (canudo)". Figura citada pela maioria dos vendedores, o senador Edurado Suplicy (PT) é considerado um amigo. Foi ele quem deu a ideia de criar a cooperativa e assina a introdução do livro. "Acho que pode ser um ótimo exemplo para ambulantes de outras partes da cidade dialogarem com a Prefeitura e encontrarem o lugar adequado para trabalhar", diz o senador. "A força da união foi muito importante para eles."

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