Ligação seca entre Santos e Guarujá causa polêmica entre especialistas

Defensores da ponte dizem que modelo é mais barato, mas governo estadual já decidiu fazer túnel

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Por Rodrigo Burgarelli
Atualização:

SÃO PAULO - A discussão sobre uma ligação seca entre Santos e Guarujá já ultrapassa meio século. A questão foi levantada pela primeira vez na década de 1950 pelo então governador Prestes Maia, que já previa a necessidade de conectar as duas maiores cidades da Baixada Santista, por ponte ou túnel. As duas opções se revezaram nas promessas dos políticos paulistas até que, em agosto deste ano, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu definitivamente pelo túnel. O debate, porém, continua acirrando o ânimo dos técnicos que defendem o outro modelo.

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"A ponte é uma opção muito mais econômica e não teria nenhum impacto no funcionamento do Porto de Santos. Além disso, como seria estaiada, seu impacto visual atrairia mais turistas para a Baixada. Seria um novo cartão-postal, com custos de manutenção baixíssimos", afirma o engenheiro Catão Ribeiro, que participou da elaboração de um projeto básico contratado pelo ex-governador José Serra (PSDB) em 2009.

A proposta, que custou R$ 1,3 milhão aos cofres estaduais, definiu custo de R$ 923 milhões para a ponte - cerca de 30% a menos do que o R$ 1,3 bilhão estimado para o túnel. "Esse valor ainda vai subir, já que um túnel do modelo que eles querem fazer, com módulos pré-moldados, nunca foi feito no Brasil e por isso não tem valores de referência", diz Ribeiro.

Defensores da ligação subterrânea, por sua vez, enumeram as vantagens do projeto escolhido pelo governo estadual e garantem que elas compensam o custo maior. "A ponte prevê apenas duas faixas em cada sentido. Já nosso projeto prevê três faixas de cada lado, além de uma galeria extra para bicicletas e pedestres e outra para o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, que deverá conectar São Vicente, Santos e Guarujá e foi incluído no projeto do túnel no mês passado) que o governo quer fazer na Baixada Santista", argumenta o engenheiro Tarcísio Celestino, professor da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos e colaborador do projeto do túnel. Segundo ele, o custo não deverá subir de maneira significativa, uma vez que os itens que compõem a construção já são fabricados por diversas empreiteiras no País.

Navegação. Outro motivo de discussão é o tamanho de ponte necessário para a navegação do Porto de Santos, um dos principais do Brasil. O projeto da ponte prevê um gabarito de 85 metros de altura. "É mais do que suficiente para o tamanho atual dos navios. Essa altura já foi utilizada em grandes cidades portuárias, como Nova York e Roterdã, na Holanda, onde funcionam os maiores portos do mundo", afirma Ribeiro.

Já Celestino afirma que há plataformas de petróleo atualmente com estruturas de mais de 100 metros de altura que já trafegam pelo canal entre Santos e Guarujá. Ambos, porém, concordam que a inclinação do ponte é praticamente igual à da ponte, o que permitiria o tráfego tanto de caminhões quanto de bicicletas.

Apesar dos debates, o governo estadual considera que essa questão já está "encerrada". A empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) afirmou que deverá lançar ainda neste mês um edital para contratar o projeto executivo do túnel. Esses estudos ainda deverão levar mais um ano, quando então as obras finalmente serão contratadas.

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Por isso, a obra só deverá ser concluída na próxima gestão, após 2015. Segundo a Dersa, o túnel será construído com recursos do tesouro estadual e, depois, deverá ser concedido a uma empresa privada que cobrará pedágio para a travessia em troca da manutenção.

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