Jovens de favelas são treinados para gravar vídeos contra ações policiais

Adolescentes da comunidade do Moinho, no centro, aprendem a usar câmeras profissionais e a editar filmes para postá-los na internet e denunciar violência e omissão de autoridades

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Por Diego Zanchetta
Atualização:
Trinta jovens foram treinados na Favela do Moinho Foto: Clayton de Souza/Estadão

Atualizada no dia 22 de dezembro às 17h42

Do encontro com o prefeito Fernando Haddad (PT) às batidas policiais quase diárias, nada deixa de ser gravado, editado e documentado por adolescentes e jovens da Favela do Moinho, no centro de São Paulo. A iniciativa será disseminada por bairros da periferia, como Heliópolis, Paraisópolis, Brasilândia e Jardim Pantanal, com o objetivo de filmar com celular ou pequenas câmeras abusos policiais, encontros com autoridades e reintegrações de posse. Logo em seguida, tudo é compartilhado nas redes sociais.

Vice-presidente da União dos Moradores de Paraisópolis, na zona sul, Joildo dos Santos, de 29 anos, também incentiva os jovens a filmar as ações da PM. “Quando você compartilha um vídeo de violência policial na internet, a sociedade inteira passa a fazer a cobrança por uma postura melhor da polícia. Surte bem mais efeito do que antigamente, quando você tinha de ir reclamar para um político amigo ou para uma ONG”, afirma. Nesta terça-feira, 16, das 9h às 19h, a ONG americana Witness (Testemunha) promove, em parceria com a Artigo 19, seminário na Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo (Apesp). Fundada em 1992, a entidade incentiva o uso dos vídeos como prova contra abusos.Punição. Para o especialista em segurança pública Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), para se criar uma cultura de uso de vídeos entre os jovens é preciso haver, antes de tudo, punição para os culpados. “Não adianta incentivar o jovem a filmar a ação policial se nem ele vai ter segurança alguma depois, já que os acusados muitas vezes permanecem soltos”, diz o pesquisador. “É preciso haver a mesma punição que a Justiça americana criou como consenso nos casos de vídeos que mostram claramente a violência da polícia”, afirma Paes Manso.

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