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Inundação dos mangues poderá bloquear acesso ao porto de Santos

Elevação de 80 cm no nível do mar em 2100 afogaria 50% dos manguezais da região portuária, fazendo a areia assorear o estuário

Por Fabio de Castro
Atualização:

A elevação do nível do mar afogará 50% da vegetação dos manguezais no entorno de Santos até 2100, fazendo com que sedimentos finos sejam liberados em grande quantidade, o que provocará o assoreamento do estuário do porto, inviabilizando as operações. A previsão é do engenheiro Paolo Alfredini, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que liderou um estudo sobre os impactos costeiros, para um relatório da extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

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Segundo o modelo de Alfredini, até 2100 o mar subirá 80 centímetros em Santos e a cidade precisará de grandes obras de adaptação para salvar as operações portuárias. Além do assoreamento, a subida do mar reduzirá o espaço entre o cais e a água - de 1,6 metro na época da construção para 48 centímetros em 2100. "Com isso, uma simples ressaca será suficiente para inundar o cais", afirmou.

A principal recomendação do pesquisador é a construção de dois molhes – maciços de pedra revestidos de blocos de concreto – com cinco quilômetros, a partir da praia, e três quilômetros, a partir da extremidade oposta do estuário. “Os molhes confinariam as correntes de maré, aumentando a velocidade da água no canal. Isso ajudaria a limpá-lo, evitando o assoreamento com a areia que virá do mangue”, explicou Alfredini.

Além de proteger o porto, os molhes também ajudariam a reduzir o impacto da elevação do nível do mar na cidade. Considerando a inclinação das praias de Santos, segundo Alfredini, cada centímetro de elevação do mar acarreta a perda de um metro de praia. “Isso significa um avanço de 80 metros até 2100. Com os molhes, a areia seria barrada e, em vez de assorear o estuário, ela engrossaria as praias, que são a primeira linha de defesa da cidade.” A construção dos molhes custaria cerca de R$ 400 milhões, segundo ele.

<CW-10>De acordo com Alfredini, a erosão das praias já é acentuada na cidade e a combinação da elevação do nível do mar com chuvas intensas, maré alta, e tempestades que aumentam o tamanho das ondas causará inundações frequentes. “As ressacas na cidade já são bem agressivas, fazendo o mar ultrapassar as muretas, invadir a avenida beira-mar e as garagens de prédios.”

Orla. O problema, segundo ele, foi agravado pela urbanização da praia, feita entre 1920 e 1940. “Os jardins da orla sitiaram a praia, engessando a paisagem. A grande área de vegetação de restinga que defendia a cidade foi substituída pela avenida e pelos jardins.”

Para solucionar o problema da orla, Alfredini propõe a remoção dos jardins e a construção de dunas artificiais, ou de um dique. “A longo prazo, por volta de 2050, é provável que Santos precise construir uma barreira móvel de comportas, como a de Veneza, na Itália, ou a do Porto de Roterdã, na Holanda. A elevação da borda do cais também será fundamental.”

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