Homicídios caem 72% e letalidade policial avança 7% em SP

Estudo mostra ainda que o número de mortos pela polícia, entre 2013 e 2014, é maior do que a quantidade de feridos

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Por Juliana Diógenes e Felipe Resk
Atualização:

SÃO PAULO - Pesquisa inédita da Prefeitura de São Paulo e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) aponta um contraste entre as estatísticas de homicídios dolosos e as de letalidade policial na cidade de São Paulo. Enquanto os assassinatos sofreram queda de 72,21% nos últimos 15 anos, as mortes decorrentes de ação policial avançaram 7,95%, segundo dados do sistema municipal PRO-AIM e do Estado.

Em 2014, foram registrados 1.661 homicídios dolosos, índice três vezes menor do que os registrados no ano 2000, quando houve 5.979 assassinatos na capital paulista. Já a letalidade policial aumentou no período, subindo de 327 para 353 casos notificados.

Estudo. Análise aponta para um 'padrão de uso excessivo da força' pelas polícias paulistas Foto: MARIO ÂNGELO/SIGMAPRESS

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O índice de letalidade registrado no ano passado é o maior da série histórica. Ele representa 21% do total de morte violenta intencional (MVI), uma categoria do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que mede o impacto das mortes provocadas por policiais. A média nacional é de 5%, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública - feito pelo Fórum.

O resultado de São Paulo é considerado “significativo” pelo estudo. Para aferir o quanto a letalidade policial representa no universo de assassinatos, o índice de MVI agrega dados de homicídios dolosos, de lesão corporal seguida de morte, de latrocínio, de vitimização policial e de morte decorrente de ação policial, tanto em serviço quanto de folga.

“O peso das mortes cometidas por policiais é muito alto. Uma a cada cinco pessoas que são mortas na cidade de São Paulo é pela polícia”, afirma a socióloga Jacqueline Sinhoretto, coordenadora do Gevac.

Feridos. O estudo mostra ainda que o número de mortos pela polícia, entre 2013 e 2014, é maior do que a quantidade de feridos. Foram 528 mortes no período, ante 390 feridos. “O treinamento de tiro defensivo da Polícia Militar é para não atirar nas áreas vitais. Seria esperado um número de feridos superior ao de mortos. Essa é a orientação da PM”, argumenta Jacqueline. “Mas o que verificamos nos dados não é isso. O que evidencia que alguma coisa no uso da força policial não está funcionando bem.”

Para o consultor de segurança pública e coronel da reserva José Vicente da Silva Filho, no entanto, os números não contrariam a orientação da polícia. “O treinamento do policial é para dar dois tiros seguidos no tórax do opositor. A chance é muito maior de matar do que de ferir”, afirma. “Policial não é treinado para atirar na perna ou no braço.” 

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Segundo o coronel, a orientação para efetuar dois disparos é porque o agente “não pode se dar ao luxo de dar um tiro e errar” em confrontos. “Infelizmente, é a dura realidade. Por que o policial porta arma? Porque há uma série de condições de conflito em que essa arma pode ser necessária para neutralizar a pessoa.”