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Haiti bate o Congo na Copa dos Refugiados

Expatriados de seis nações acolhidos no Brasil fazem torneio alternativo e celebram diferenças

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Por Julia Affonso
Atualização:

SÃO PAULO - Fora dos campos oficiais da Copa do Mundo, Haiti e mais cinco países que têm moradores acolhidos no Brasil disputaram neste domingo, 27, outra copa do mundo em São Paulo: a dos Refugiados. O vencedor foi o time caribenho, que, sob os gritos de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, derrotou o Congo por 2 a 0 e recebeu dois prêmios: um troféu e uma réplica de chocolate da taça do Mundial da Fifa.

“Somos 15 jogadores. Cada um vai comer um pedaço só”, disse Gaedy Dura, de 27 anos, o capitão do time. “O troféu não (vamos dividir). Ele vai para minha casa. Depois pode ir para outro lugar.”

Haiti bate o Congo na Copa dos Refugiados Foto: ERICA DEZONNE/ESTADAO

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O torneio, promovido pelo Instituto de Reintegração do Refugiado no Brasil e pela Rede de Voluntários Atados, reuniu também as seleções da Colômbia, da Costa do Marfim, do Mali (terceira colocada) e da Síria, que jogou sem se alimentar nem beber água por conta do Ramadã (mês em que os muçulmanos praticam o jejum).

O Haiti foi superior ao Congo durante os 26 minutos do jogo, mesmo com a “ajuda exterior” da seleção congolesa. O time africano tinha três técnicos espalhados à beira - e um pouco dentro - do campo. E eles eram de todos os estilos: um engravatado, outro vestido de Robinho, com direito a vuvuzela nos ouvidos dos haitianos, e um motivador. “Vamos, vamos”, gritava.

O campeonato uniu pessoas de nacionalidade e crenças diferentes, mas com o mesmo drama de não poderem mais viver em sua terra natal. Segundo dados de abril de 2014 do Ministério da Justiça, o Brasil abriga 5.908 refugiados por motivos de guerra, perseguição política, religiosa e étnica.

“Vim para o Brasil procurar um trabalho”, conta o haitiano Wilforce Charles, de 23 anos. Ele chegou há três semanas a São Paulo, saindo do Acre, a principal porta de entrada no Brasil para quem viaja do Haiti. Desde o fechamento do abrigo em Brasileia (AC), mais de 450 imigrantes haitianos chegaram à capital paulista.

“As pessoas no Brasil não conhecem muito bem o Islamismo, mas respeitam muito. Digo que estou no Ramadã, e ninguém reclama”, conta o engenheiro Talal Altinawi, de 40 anos, refugiado da Síria. Ele saiu da capital Damasco há um ano e meio em direção ao Líbano. Há seis meses está no Brasil com a mulher e dois filhos. “A situação da Síria é muito difícil. Alepo e Homs (cidades mais prejudicadas com a guerra civil) estão destruídas. Aqui temos mais tranquilidade.”

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Brasil x Argentina. Outra característica comum entre o jogadores da copa paralela é torcida na Copa oficial. Para a maioria, vai dar Brasil. Menos para Charles. “Argentina. Messi é o melhor”, diz. Até o final, em 13 de julho, muitas seleções voltarão para casa. As dos refugiados, não. A casa deles agora é aqui.

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