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Haddad reduz ronda escolar e põe Guarda para fiscalizar camelô

Total de unidades atendidas pelo programa até junho caiu 57,9%, em comparação com 2013, e as rondas diminuíram 66,3%

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:
Flagrante. Administração deslocou 80 agentes para fiscalizar motocicletas nas Marginais com radares-pistola Foto: GABRIELA BILÓ|ESTADÃO CONTEÚDO

SÃO PAULO - A gestão Fernando Haddad (PT) esvaziou o programa de segurança escolar feita por guardas-civis metropolitanos (GCMs). Desde 2013, primeiro ano de Haddad à frente da Prefeitura, guardas que monitoravam o entorno de escolas municipais de ensino fundamental, pré-escolas e creches têm sido deslocados para as outras atribuições, como policiamento florestal, acompanhamento do programa De Braços Abertos, na Cracolândia, e fiscalização do trânsito, entre outras funções. Neste ano, foi registrada o menor número de rondas de toda a gestão.

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Neste período, as atribuições da GCM se diversificaram. Foram criadas três inspetorias da guarda florestal, com um efetivo de 700 guardas-civis. Outros 250 guardas foram deslocados para o programa De Braços Abertos e 800 estão atuando no combate ao comércio informal, em substituição aos policiais militares que participavam da Operação Delegada.

Além disso, desde setembro do ano passado, 80 guardas atuam com radares-pistola nas Marginais do Pinheiros e do Tietê, usados para fiscalizar motos.

O governo municipal admite que houve diminuição do programa escolar, mas promete chegar a 300 unidades atendidas por 800 GCMs a partir de agosto. A justificativa é que houve aumento das atribuições da guarda sem ampliação do efetivo. O secretário municipal de Segurança Urbana, Benedito Mariano, também promete nomear 500 GCMs dos 2 mil aprovados em concursos em 2013. A prioridade será reforçar a ronda escolar (mais informações nesta página).

Bico. Para minimizar a falta de segurança, a Prefeitura tem oferecido aos guardas que fiquem em postos fixos nas escolas consideradas mais “problemáticas” nos dias de folga, o chamado “bico oficial”.

O número de escolas com policiamento fixo aumentou – eram 52 unidades em 2013, ante 75 neste ano. Mas esta ação contempla parcela pequena da rede, que tem 1.424 unidades próprias e outras 2.025 conveniadas (administradas por entidades privadas). E há, no total, só 200 guardas nestes colégios – 3,3% do efetivo.

Além disso, 553 escolas têm segurança privada, que cuida da preservação dos bens materiais, ao custo médio de R$ 15 mil por unidade, prioritariamente no período noturno. Nesta modalidade, os agentes não podem usar armas.

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Para o presidente do Sindicato dos Guardas Civis Metropolitanos de São Paulo (Sindguardas-SP), Clóvis Roberto Pereira, o principal motivo para o esvaziamento é a redução no efetivo. “No final de 2004, tínhamos 6.183 GCMs e a principal atividade era o policiamento escolar. Hoje, são 6.005. Temos menor efetivo e muito mais atribuições. Você tem o cobertor curto e acaba priorizando uma coisa ou outra.”

Desânimo. Sob condição de anonimato, o Estado conversou com um GCM que está há 20 anos na corporação. Ele relata sobrecarga no trabalho e desânimo com a profissão. “Quando a pessoa entra numa corporação policial, entra com uma vontade instigante de trabalhar. O salário parece bom no começo, se comparado com o mínimo que se recebe na iniciativa privada. Mas, quando você faz a relação com a responsabilidade que leva nas costas, fica indignado. Muita gente está saindo porque não aguenta mais ficar na corporação.”

Um dos maiores problemas, segundo o GCM, é que a falta de efetivo faz com que muitos trabalhem dobrado e não consigam tirar folgas. “Posso trabalhar no radar e no mesmo dia receber uma missão de ronda escolar. A carga de estresse é tão grande que muita gente pega licença. Com efetivo baixo e falta de concurso, quem está trabalhando, trabalha por duas ou três pessoas”, disse.

Outro problema relatado por ele é o assédio moral. “Há muita perseguição. Um exemplo: muitas vezes não chega o uniforme para trabalhar, e aí precisamos comprar do nosso bolso. Se você não compra, o chefe pode até pedir sua transferência para outro lugar. Se você pede uma folga, dizem que vão dar. Aí, de última hora, cancelam e você precisa desmarcar todos os planos. Isso desgasta muito o agente.”