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Haddad quer negociar só com líderes; na Câmara, aposta é que nada muda

Prefeito eleito de São Paulo quer evitar conversas, cobranças e até apoios individuais e agir 'no atacado'; para parlamentares, é tudo 'jogo de cena'

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Por Adriana Ferraz e Diego Zanchetta - O Estado de S.Paulo
Atualização:

Atendimento no "atacado". É o que promete o prefeito Fernando Haddad (PT) quando o assunto é a Câmara. Nos próximos quatro anos, o petista quer evitar conversas, cobranças e até apoios individuais. A meta é negociar a aprovação de projetos de lei diretamente com os líderes das bancadas partidárias. Hoje, além do prefeito, tomam posse os 55 parlamentares eleitos em outubro - que apostam que nada muda no trato com o Executivo.

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A mudança, segundo Haddad, é inédita e visa a acabar com o "toma lá, dá cá". Na última década, muitas vezes o interesse de um único vereador barrava a votação de projetos. O prefeito não quer ficar refém de parlamentares que atuam isoladamente em defesa de igrejas ou de empresas do mercado imobiliário, como ocorreu nas gestões Marta Suplicy (PT), José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD).

Em fevereiro de 2010, só para citar um caso, o então vereador e hoje deputado federal pastor José Olimpio (PP) conseguiu apoio de colegas evangélicos para barrar um projeto da Prefeitura que dava isenção de Imposto sobre Serviços (ISS) para empresas ligadas à área da cultura. Seu objetivo era pressionar Kassab a conceder alvará para um templo da Igreja Mundial no Brás, considerado ilegal pelo Ministério Público Estadual (MPE).

Depois de conseguir derrubar quatro sessões seguidas na Câmara, com o apoio do então bloco político chamado "centrão", Olimpio conseguiu o que queria: do próprio punho, Kassab fez uma autorização para a reabertura do templo e a isenção de ISS para a cultura acabou votada na semana seguinte.

Para assegurar maioria e evitar situações como essa, Haddad conta com a experiência do deputado estadual João Antonio (PT), seu atual secretário de Relações Governamentais. Ex-vereador, ele terá a missão de agregar parlamentares para a base do prefeito. O objetivo é assegurar a aprovação de propostas que exigem três quintos dos votos, como o Plano Diretor.

'Duvido'. "No começo se finge que existe diretriz. Depois volta a ser tudo a mesma coisa, é jogo de cena. Quero ver quando tiver uma Igreja Universal pressionando em ano de eleição para ver se não vai ter negociação", duvida o senador Antonio Carlos Rodrigues (PR), ex-presidente por quatro mandatos consecutivos, fundador do "centrão" e defensor da negociação do varejo combatida por Haddad.

Suplente de Marta, Rodrigues avalia que cada vereador precisa receber atenção em suas demandas individuais. "Esses subprefeitos engenheiros que o Haddad está escolhendo foram indicados após conversas com vereadores. Como assim não vai ouvir todo mundo? Nada vai mudar, pode apostar", acrescenta.

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Apesar das dúvidas de que vá conseguir mudar algo na Câmara, o novo prefeito começa a gestão com saldo favorável. Além dos 11 vereadores do partido, já tem o apoio declarado dos eleitos por PMDB, PTB, PC do B, PP e PSB. Indiretamente, a lista aumenta com os parlamentares do PV e do PR. Mesmo derrotado nas urnas, o partido de Kassab não deve impor dificuldades à administração. Mas com oito representantes pode inverter a balança pró ou contra Haddad.

A partir de hoje, o petista José Américo deve comandar os trabalhos no Palácio Anchieta - e a ordem das votações, o que deve facilitar ainda mais a vida de Haddad com o Legislativo. Na chefia da oposição, dois tucanos devem dividir a função: o atual líder da bancada, Floriano Pesaro, e Andrea Matarazzo, que recebeu 117,6 mil votos. Ambos, no entanto, já deixaram claro que as medidas que ajudarem a população de São Paulo terão o apoio do partido.

Uma delas já foi até antecipada pela bancada. Três dias após a eleição de Haddad, a bancada do partido apresentou projeto de lei propondo o fim da taxa de inspeção veicular - uma das principais promessas de campanha do prefeito eleito.

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