Grupo de 20 motoristas da Uber protesta em SP contra aplicativo

Colaboradores de startup dizem que redução na tarifa causa prejuízos; manifestantes dizem que 2 mil deixaram de atender

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Por Rafael Italiani
Atualização:

SÃO PAULO - Um grupo de 20 motoristas da Uber protestou na manhã desta segunda-feira, 28, em frente ao Estádio do Pacaembu, na zona oeste da capital, reivindicando reajuste das tarifas pagas pela startup. Eles reclamam que a redução de 15% no preço das corridas aplicada pela empresa recentemente diminui os lucros deles. O aplicativo fica com 20% de cada corrida. Segundo Paulo Acras, um dos organizadores do ato, cerca de 2 mil deles desligaram os aplicativos e estão deixando de atender motoristas. Outros protestos acontecem em capitais do País que têm o serviço disponível.

Ao todo, são 10 mil colaboradores cadastrados no Brasil. A mobilização foi combinada por redes sociais e o total de colaboradores que não estão atendendo é uma estimativa feita pelos manifestantes a partir de confirmações de outros motoristas. Os prestadores de serviço da Uber não tem acesso ao total de aplicativos ligados ou desligados. 

Motorista do aplicativofazem protesto em frente ao Estádio do Pacaembu. Eles protestam pela redução de 15% da tarifa e o aumento de número de motoristas, fatores que têm, segundo eles, reduzido os ganhos dos cadastrados Foto: Felipe Rau/Estadão

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O ato em frente ao estádio foi considerado simbólico, já que os colaboradores esperam causar mais impacto deixando de atender os chamados de passageiros. De acordo com Acras, a Uber não os recebe pessoalmente para dialogar. O motorista apresentou um estudo onde diz que o custo por quilômetro rodado é de uma média de R$ 1,48 por dia. Acras explica que a Uber paga R$ 1,04. 

O estudo apresentado por Acras leva em conta motoristas que trabalham com carros alugados e não próprios, o que aumenta o custo dos colaboradores. "Se a Uber diz que a gente ganha dinheiro é mentira. No dia que eu mais lucrei trabalhei 16 horas", conta. Sobre a baixa adesão, ele explica que os motoristas têm medo de sofrer represálias da Uber. Alguns dos presentes esconderam as placas dos carros com jornais. Acras é economista e utiliza um automóvel alugado para trabalhar. 

Já Fernando Silva, de 44 anos, trabalha como motorista e liga o aplicativo da Uber ao final do expediente. Ele também reclama do valor pago pela startup. “Não compensa trabalhar com a Uber por esse preço. É ilusão para quem entra e ninguém aguenta trabalhar 20 horas por dia”, disse.

Procurada, a startup disse que com base em dados de mais de 400 cidades onde existe o aplicativo, a Uber analisou que diminuir a tarifa pode ser mais vantajoso do que aumentar o preço. A justificativa é de que os motoristas fazem “ainda mais viagens e continuam gerando tanta renda quanto antes, chegando até a ganhar a mais.” A empresa que explica ainda que “o aumento na demanda significa que os parceiros passam a fazer mais por hora e ficam menos tempo rodando” entre um chamado e outro. 

Haddad. Na tarde desta segunda-feira, 28, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), voltou a defender a posição da gestão, que propôs um modelo de regulamentação da Uber nos últimos dias de 2015 prevendo a venda de créditos por quilometragem para as empresas de transportes de passageiros. “A posição da Prefeitura é claríssima desde o primeiro dia: somos contra a liberalização e a proibição. Somos a favor da regulamentação”, destacou.

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Haddad disse ainda que, da forma como funciona a multinacional norte-americana hoje, “é o pior dos mundos”. “Se não regulamentarmos, vamos perder uma grande oportunidade. Deixar o livre mercado é um erro para o transporte público. O livre mercado congestiona e empobrece a cidade”, afirmou. Segundo o prefeito, a regulamentação abrirá espaço para que taxistas e motoristas com tecnologias mais modernas possam trabalhar na capital.

“Por falta de regulamentação, até a Prefeitura está proibida pelo Judiciário de fiscalizar. Isso é ruim, a Prefeitura ficar com as mãos amarradas em função de uma liminar por falta de regulamentação”, disse.

O prefeito fez um apelo para os vereadores, solicitando a regulamentação do serviço “sem empobrecer o trabalhador, seja taxista ou motorista, e sem congestionar as vias desnecessariamente”.

Conforme revelado pelo Estado, Haddad se articula com a Câmara Municipal para aprovar um texto que regulamente a Uber na capital paulista. A expectativa da Prefeitura é que, até o fim de abril, o serviço esteja regulado. /COLABOROU JULIANA DIÓGENES    

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